domingo, junho 03, 2012

Inteiro



 
Dê-me um pouco de tempo
Um sopro de vento
Um pingo de siso
Uma gota de senso
Dê-me ares de riso
 Um gole de chuva
Um punhado de terra
Uma  bola de neve
Um  floco de nuvem
Um grão de areia
Uma nesga de mar
Marulhar de um rio
Um  clarão de luar
Um raiar de manhã
Um dedo de prosa
Uma folha de verso
Botãozinho de rosa
Luminar de verão
Uma  pitada de cor
Um cheiro de flor
Canto de um sabiá
Solfejar de canção
Lampejo de olhar
Olhar pela fresta
de uma porta entreaberta...
De tudo dê-me um tiquinho,
mas de amor, me dê não...
Só se for inteirinho...




quarta-feira, maio 16, 2012

Fr/Ações














Seriam DOIS que,
acreditavam UNS, pareciam UM,
mas eram TRÊS ou mais
num espaço que seria de DOIS...
TERÇA PARTE, parte...ponto final.
Para DOIS TERÇOS, UM QUARTO afinal...
Depois de MAIS de VINTE,
Buscam-se METADES
perdidas no desejo
de não ter medo do
desejo de ser
UM de DOIS.

sexta-feira, março 09, 2012

A Bela Azul

Quando aprazível o jardim, até elas, as ariscas, se deixam flagrar de asas abertas...

terça-feira, julho 05, 2011

Nascente ou poente?




Dois espetáculos, dois momentos de êxtase para seres contemplativos...nascente e poente, cada um com seu encanto...um, força, luz, alegria, esperança do novo...e, por ser novo, incerteza, mistério, avidez, ansiedade...

Outro, despedida, solitude, saudade, nostalgia, segurança do conhecido, do vivido, da missão cumprida...certeza do aconchego, do repouso, da troca de turno... vai-se o sol, vem a lua com as estrelas...

Quisera a esperança do amanhecer com a serenidade do crepúsculo, o brilho da juventude e a solidez da maturidade, a exuberância da primavera e a sobriedade do outono...


sexta-feira, junho 17, 2011

Fala muda



Calo...
e me escuto...
e te escuto...
ouço os gritos do meu silêncio...
ouço ecos de tua crítica
a meu silêncio...
Tens razão.
Às vezes pareço muda...
Apenas pareço...
Quando muda, falo...
Uma fala muda,
de sinais,
de olhares,
de "ares de riso"
como se dizia
em outros carnavais...
Se muda pareço,
de bons motivos careço,
para não calar...
Quando pareço muda,
fico também invisível
para melhor enxergar...
É quando sou muito ego,
muito "in"...
É quando tudo em volta
parece bobo demais...
E corro pra dentro de mim
em busca do feto,
do broto,
da semente,
do ovo,
do embrião,
da faísca,
do fonema,
da fagulha,
da menor partícula
do NOVO...
DE NOVO...



terça-feira, fevereiro 01, 2011

Poema Mudo


Vez em quando as palavrinhas mágicas que me "cutucam" desaparecem...escondem-se entre céus e infernos, deixando a borboleta que habita em mim, de asas duras como mergulhadas em tonel de concreto, ou quem sabe, no túnel do concreto...mas, como todo túnel desemboca sempre em alguma luz, basta um amanhecer de cores vibrantes, um música ao longe, um cheiro bom ou uma flor caída para tornar leves as asas de sonho da bichinha...e então,


na ausência de tudo,

de apenas um flor em pauta

e uma nota de flauta,

nasce um POEMA MUDO...

e à folha em branco,

palavra já não falta.

quinta-feira, novembro 25, 2010

Muito pouco de tudo




Ando com medo de acordar qualquer dia a zumbizar, feito máquina, querendo ser, (quem sabe?) uma mulher bicentenária. Parece-me que resolvemos competir com as máquinas e nessa busca desenfreada pela perfeição, nesse querer ser superior e diferente, acabamos nos igualando pelo que temos de pior e vamos nos tornando um frio exército de seres de lata(deveríamos nos lembrar de que o grande desejo do “ homem de lata” era ter um coração...)

Não nos permitimos ser imperfeitamente perfeitos; rejeitamos o que temos de mais humano que são nossos defeitos e fraquezas, nossas diferenças que nos tornam únicos; não nos damos tempo de saborear, de experimentar, de esperar amadurecer, de dar o ponto. Não temos tempo e todo o tempo que tivermos será pouco. O mundo está aí transformado numa imensa vitrine e a ordem é consumir, é ter e ter muito. Pra isso é preciso correr e qualquer coisa que encurte nossos passos é um peso a ser descartado...aliás quase tudo é descartável. Coisas são substituídas a todo instante, não importa se atendem à necessidade para a qual foram adquiridas. Temos de exibir o mais caro, o mais moderno, o que simbolize sucesso;e nessa ânsia de TER, vamos nos esquecendo de SER; e transformamos também em coisas descartáveis, nossas relações. Vamos encolhendo a família, abandonando crianças e velhos, que são as extremidades da vida, e não nos interessam as pontas,as arestas, qeremos apenas o meio, o miolo, o filé, o melhor. Não nos sobra tempo para cultivar amizades, nem mesmo para o amor. Não bastam cumplicidade, companheirismo,afinidade para compartilhar a vida, a mesa, a cama...não basta sexo com amor...é preciso variar, é preciso buscar algo diferente a cada dia, é preciso corpo perfeito, é preciso juventude eterna. E seguimos garimpando o PERFEITO, esquecendo que viver é simples, que temos muito e precisamos de muito pouco.
Que eu me aceite falha, que não congele meu sentir, que saiba anoitecer esperando um novo amanhecer.