sábado, dezembro 23, 2006

Em folha!


Fim de ano... por mais avessos que sejamos às convenções e comemorações não dá pra escapar do clima de renovação, cada um do seu jeito. Pra mim é tempo de limpar gavetas em todos os sentidos, jogar fora coisas inúteis, arejar a casa e a alma. E fazendo isso, lembrei-me do melhor dos meus Natais, com minha família em uma fazenda , em plena harmonia com a natureza, com direito a banho de cachoeira com o sol por toalha.
Fim e começo são apenas conceitos, não é a virada do calendário que nos vai trazer grandes mudanças; mas essa fatia de tempo que agora se encerra trouxe decisões, aprendizado e crescimento.
Que venha 2007, que traga a beleza do sete! Há quem tenha certo receio do número sete; acho-o significativo, rico. São sete as cores do arco-íris, sete as notas musicais, sete os dias da semana, sete os véus da bela dança, os segredos do tesouro, as vidas do gato, os sentidos da mulher. Tá bom! Tem também as sete pragas do Egito, sete palmos debaixo do chão, mas isso a gente deixa a setenta vezes sete milhas de distância do pensamento!
Que venha 2007 com muita paz! Vou esperá-lo “sem rádio e sem notícia das terras civilizadas”, por isso é esta minha última postagem de 2006.
A todos que passarem por aqui, desejo PAZ!!!
Que venha 2007 , novinho em folha, flor e fruto e nos faça renascidos!

Sibipiruna



Sibipiruna

Palavrinha difícil de falar, parece um quebra-língua! Se a palavra enche a boca, o que ela designa enche os olhos e encharca a alma de tanta beleza! A cidade está amarelinha de novo! Parece que as árvores fizeram um pacto de deixar sempre dourado o céu de Brasília...Quando saem de cena os ipês e as caraibeiras, vêm as sibipirunas. “Contemplativos” agradecemos!

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Esclarecendo

Recebi uma cobrança/sugestão: por que não faço referência às imagens postadas? Fiz quando usei foto de uma amiga, quando fiz foto de foto, como no caso de uma reportagem do Correio Braziliense; as demais, são todas minhas; as telas que fotografo também são minhas, por isso não vejo necessidade de mencionar. Se você gosta de fotografia não profissional e quiser visitar minha "galeria" no http://www.emquadro.com.br (vilma) será bem-vindo! Tenho algumas também no http://www.photografos.com.br/ (josefa vilma) mas abandonei; o tempo não dá pra tanta coisa. Ficamos entendidos agora? Obrigada pelo toque!

quarta-feira, dezembro 20, 2006

E Então Seria Natal!


Quisera Natal fosse algo mais que shopping, vinho e peru!...O que é Natal? Aniversário de quem mesmo?



Organiza o Natal
(Carlos Drummond de Andrade)

Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.
Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon - sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.
Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.
A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.
A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.
Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.
O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.
Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.
A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.
O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.
E será Natal para sempre.

De tudo fica um pouco


Porque fica um pouco da rosa despetalada, do vinho "destinto" e derramado, da tela rasgada, da porta fechada, gosto destes trechos do poema

"Resíduo"
de Carlos Drummond de Andrade

...De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa ficou um pouco.
Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.”

...Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficariaum pouco de mim?
E de tudo fica um pouco.
...Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo...

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Para refletir


Fascinam-me palavras que fazem pensar,
Fascina-me quem diz tudo falando pouco.
"O melhor profeta do futuro é o passado".(Robert Frost)

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Onde mora a poesia?


No reino das palavras, disse o Poeta...e o reino das palavras tem súditos em toda alma que se permita ver além do óbvio.
Procura da Poesia
(Drummond)

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha
de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues.
Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Poema musicado


Suave como as "mãos da chuva", poema de E.E. Cumminigs, traduzido por Augusto de Campos e musicado por Zeca Baleiro.

nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade; cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Colore pro cuore


Colore pro cuore
(Num dia de amarílis quebrando o cinzento)

Pros dias cinzentos
tinta de "sangre"
Pros dias sangrentos
flores de paz
pros dias de paz,
asas azuis
Pro "Vôo da Gaivota"
tempo, tempo, tempo...
Pras asas do vento
Céus de anil
Pra boca da noite
Beijos de anis

Borboletras

terça-feira, dezembro 05, 2006

Bolhas de Sonho



Um livro seduziu-me pela capa...não a capa em si, mas o que dela emana, assim como nunca é um rosto que me atrai, mas o que ele tem de expressivo: o olhar independente da cor dos olhos, o sorriso independente da forma da boca... Mas o olhar do livro, a janela da alma que ele me mostrou, assim como quem não quer nada, foi isto:

“Ver um Mundo num Grão de Areia
E um céu numa Flor silvestre,
Ter o infinito na palma da sua mão
E a Eternidade numa hora.”
(William Blake)

Esta jóia estava nas mãos de uma colega de trabalho...pedi licença e fui logo pegando; o título do livro é Um céu numa flor silvestre (A beleza em todas as coisas) de Rubem Alves, de quem me tornei admiradora depois de “apresentada” por uma amiga à casa virtual dele...( http://www.rubemalves.com.br/) . A visita como não poderia deixar de ser começou pelo jardim...daí fui enveredando por todos os cantos e sempre que volto tenho belos momentos de fascínio. Mas tô aqui pra falar do livro...foi paixão á primeira vista; a colega que já estava levando emprestado de outra, prometeu emprestar-me, mas eu não ia esperar; saí procurando e comprei. Foi a coisa mais bonita que veio parar em minhas mãos neste ano; Li em duas tardes. É impressionante como em 163 páginas coube a beleza de Bach, Beethoven, Mozart, Chico Buarque, Nelson Freire, Turner, Constable, Van Gogh, Picasso, Monet , Michelangelo, Bachelard, Fernando Pessoa, Guimarães Rosa e outros iluminadores de almas mais a beleza das letras, de colchas de retalho, de bordados, da delícia que é cozinhar com e para quem se gosta, a beleza dos sons do silêncio ou das asas das borboletas, (isso mesmo, sons de asas de borboleta); a beleza das bolhas de sabão e de caminhar sozinho junto ao verde ou junto ao mar. É beleza que não acaba mais e para falar tudo que ele inspira seria preciso escrever também um livro. Encontrei inspiração para infinitos “post”, pois em muitas das crônicas senti minha alma lida, escrita e descrita. Se pudesse dar uma forma que não livro a esse pote de beleza diria que é um buquê de bolhas de sabão recheado de margaridas, puxado por uma “revoada” de borboletas azuis num bosque de cerejeiras floridas; é um livro com voz de passarinho, cheiro de lavanda e gosto de amora madura, de vinho tinto, de chocolate com menta; é macio feito pêlo de gato.
Pra completar, o autor tem uma amiga Vilma que foi professora, faz poesias, ama o mar e cata conchinhas. Eu sou Vilma (apesar de Josefa), amo o mar, adoro conchinhas e a poesia é minha professora...
Quem sabe um dia, terei neste livro encantado o autógrafo desse fazedor de belezas como esta:

“...A beleza que os deuses oferecem aos homens como dádiva, cai dos céus à semelhança do maná. A beleza que os homens oferecem aos deuses como dádiva, sobe da terra aos céus como fumaça ou bolhas de sabão.”

Esquadros


Uma bela música de cores fortes, de que gosto muito e há um bom tempo não ouvia.

Esquadros
Adriana Calcanhotto

Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome dos meninos que têm fome
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela(Quem é ela? Quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde
Transito entre dois lados, de um lado
Eu gosto de opostos
Expondo meu modo, me mostro
Eu canto para quem?Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Pisando leve


Caminhando com asas de borboleta, de cara pras nuvens...
Assim começou meu dia.
Ainda vou descobrir o que queriam me dizer três desses apaixonantes seres alados que em três diferentes trechos da minha caminhada, deram-me o prazer de sua "companhia"!
Que tenhamos todos um dia leve feito asas, pétalas e nuvens!

quarta-feira, novembro 29, 2006

Semelhanças


Qualquer semelhança da tela com uma foto National Geographic não é mera coincidência.

Muda tudo, mudo eu ...quanto mais mudo, mais muda fico...só não muda o jeito estranho como me chegam palavras de não sei onde, no meio da noite, e se não me levanto e encontro um papel onde despejá-las ficam lá martelando sem me deixar dormir...
Estas aí foram paridas ontem, assim do nada;

Semelhanças

Depois de VOCÊ
Não há riso nem lágrimas
Cinzas nem lavas
Desejo nem medo
Fogo nem gelo

Depois de VOCÊ
Não há carícia nem carência
Ausência nem presença
Sonho nem pesadelo
Não é tarde nem é cedo

Depois de VOCÊ
Não há esperança nem desespero
Caminhos nem desvios
Planos nem abismos
Não há caos nem há vazio

Depois de VOCÊ
Não há canto nem lamento
Encanto nem tormento ...
Há um NADA
Pleno de TUDO.

Qualquer semelhança com VOCÊ, é mera coincidência... VOCÊ não existe...é persona imaginária, comum...é qualquer um que seria se não fosse, que brinca de amar sem amor, que mina plantios de sonhos, ou que planta sonhos minados...é duas caras, uma metade, duas vidas meias verdades...uma máscara, uma mentira.

terça-feira, novembro 28, 2006

Temporada de Casca


Tudo bem! Sei que todo mundo já falou desse assunto, mas também quero falar...afinal, para escrever e fotografar, cada um o tem sua marca...o mesmo assunto visto ou comentado por mil pessoas renderá mil resultados diferentes nenão?
Fala-se muito da doença da moda, ANOREXIA que matou duas garotas há poucos dias...mas não é só esta... há algum tempo garotos morreram e ficaram doentes depois de injetar em seus corpos “remedinho” pra cavalo (ou pra boi?) buscando músculos; vez em quando morre uma mulher ao fazer em qualquer “açougue”’ inofensivas lipos ou implante de silicone nas “protuberâncias de cima e de baixo”, enquanto outras ficam carecas fazendo “baratinho” escovinhas definitivas, expondo-se a produtos químicos desconhecidos só porque alguém disse que cabelo lisinho é bonitinho; perdem a expressão enchendo o rosto de toxinas em nome da eterna juventude e acabam com cara de boneca inflável...Não sou nenhuma Irmã Paula, não me considero imune a qualquer vaidade, mas acho que somos máquinas muito perfeitas pra viver APENAS em função dessa casquinha, que escultural, magrinha, cheiinha, obesa ou esquelética vai virar “pozinho podrinho” do mesmo jeito...Claro que devemos valorizar o corpo, sim, pois é ele a embalagem , a morada da essência, nosso cartão de visitas; exercício é saudável, alimentação equilibrada também...mas isso está bem longe de se matar de fome ou de tanto “malhar” na busca insaciável de um “corpo perfeito”, ou de uma beleza que nada mais é que conceito criado pela cruel ditadura da moda...depois, o que é corpo perfeito? Um dia as belas são as branquinhas rechonchudas, outro dia as de gordura zero, outro dia as morenas cheias de curvas; hoje cabelo bonito é loiro cacheado, amanhã é vermelho liso e por aí vai...
Que tal, malhar um pouquinho os neurônios, ver a casca como proteção de
Sua Excelência O MIOLO, e dar a ele um tantinho mais de atenção? Porque na atual temporada, miolo engorda ou incomoda...o que interessa é a casca e quanto mais oca melhor! Fica mais fácil de engatar as “fashion” correntinhas escravizadoras da cor da moda.
Quem sabe, um dia as meninas comecem a enxergar que há vida além da carreira de modelo?

Porque somos águias...


"...abramos as asas e voemos. Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar." ( Do livro "A águia e a galinha" de Leonardo Boff )

Nada mais deprimente que ver uma águia negar sua condição, ciscando e cacarejando.

terça-feira, novembro 14, 2006

Coisas e Outras Coisas


Noite dessas voltando pra casa, num engarrafamento de tirar do sério a mais zen das criaturas, lembrei-me das palavras de um doce menininho, que do alto da sabedoria e pureza de seus sete anos deixou-me segurando o queixo com esta declaração:

“Eu não gosto muito das coisas que o homem cria... carro, moto, coisas assim...gosto mais das coisas que Deus criou...planta, bicho...”

Sem a inocência dele, sei que as “coisas que o homem cria” são necessárias, mas viveria bem mais feliz num lugar que Deus criou, onde pudesse resolver tudo com as canelinhas que Deus me deu, sem depender de carro, sem buzina, sem engarrafamento...e se nesse lugar o SER fosse mais valorizado que o TER e o COMPRAR, pronto! Faltava mais nada! Mas, falando de coisas, achei muito interessante o trecho de texto que transcrevo abaixo. Não chego ao ponto de gostar mais de coisas que de pessoas...Gosto de pessoas-pessoas que vão ficando cada vez mais raras...o que tem-se “multiplicado em excesso”, são as pessoas-coisas, que se deixam tratar como coisas, ou que insistem em “coisificar” pessoas...entre estas e as coisas, fico com as coisas...

“Eu sonho com uma língua composta unicamente de adjetivos como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.

Com isso, eu também sonho...com certeza, a linguagem dos animais é desprovida de máscaras e armadilhas... Cachorro quando quer distância, rosna, eriça o pêlo, mostra os dentes; quando vai com a cara da gente, abana o rabo, se aproxima, e dependendo de nossa reação teremos um amigo pra toda vida...e assim são os bichos...sabemos o que esperar deles, enquanto gente é capaz de acariciar com uma mão e apunhalar com a outra ou de envenenar sorrindo e dizendo “Te amo”...


De Gramática e de linguagem
(Mário Quintana)

“E havia uma gramática que dizia assim: “Substantivo (concreto) é tudo quando indica pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta.” Eu gosto das cousas. As cousas sim! ...As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se em excesso. As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém. Uma pedra. Um armário.Um ovo, nem sempre, ovo pode estar choco; é inquietante...As cousas vivem metidas com as suas cousas. E não exigem nada. Apenas que não as tirem do lugar onde estão. E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta. Para quê? Não importa: João vem! E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão, amigo ou adverso...João será definitivo quando esticar a canela. Morre, João...mas o bom senso mesmo, são os adjetivos, os puros adjetivos isentos de qualquer objeto. Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso. Sonoro. Lento. Eu sonho com uma língua composta unicamente de adjetivos como decerto é a linguagem das plantas e dos animais... “

segunda-feira, novembro 13, 2006

Desvalores


De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. ( Rui Barbosa)

quarta-feira, novembro 08, 2006

De livros e palavras


Disse Padre Antônio Vieira:
Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.
Disse Mário Quintana:

“Os livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas.

Digo eu:
Se livros são feitos de palavras que traduzem idéias, logo o que muda as pessoas é a palavra, pelo menos a imagem que pessoas fazemos umas das outras...
A palavra que constrói também destrói...depende da "direção do vento" nenão?

O Sol


Tô mentalmente preguiçosa...só pescando palavrinhas pensantes interessantes ou apenas sonoras...Aí vão umas bem saborosas do Arnaldo Antunes:

O Sol
Arnaldo Antunes

Nessa época o sol é mais frio
Porque ele se divide em mil
Mas para lá de janeiro
Ele volta a ficar inteiro
Agora o sol parece uma laranja madura
Porque ele está sem pintura
Mas quando entra março
Parece a cara de um palhaço
Tem dias que o sol vai embora
Tem noites que não tem aurora
Às vezes ele fica no Japão
E só volta quando chega o verão
Agora que o sol está bravo
Parece uma moeda de um centavo
Mas quando se alegra, o sol
Fica maior que uma bola de futebol
O sol está brilhando muito claro
Porque hoje é seu aniversário
Nesses dias ele quase cega
E quem é cego quase enxerga
O sol está sempre ali no céu
A terra é que faz o carrossel
De noite o sol apaga sua chama
E dorme debaixo da minha cama

terça-feira, novembro 07, 2006

Levezas


Poesia leve, suave feito nuvem de algodão.

Caixinha de Música
(Matilde Rosa Araújo)
Grilo, grilarim
Tens um canto azul
Na noite de cetim!
Cigarra, cigarraia
Tens um canto branco
No dia de cambraia
Formiga, miga, miga
Só tu cantas os nadas
Do silêncio do Sol
Das estrelas caladas.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Tempo, Tempo, Tempo...


“Tempo, tempo, tempo...Senhor tão bonito quanto a cara do meu filho...," Tempo que passa mudando o que eu sinto, me poniendo vieja,!” ... Tempo que não pára, tempo que nunca temos para o que devemos e estamos sempre devendo para o que queremos.

Como é cantado o tempo! Tanto quanto ou mais que a lua?
Mais que conceito de presente, passado e futuro, mais que dimensão da Física, mais que categoria verbal, mais que inspiração artística, o tempo é um de todos os Santos , acho eu e acho ainda o mais poderoso de todos, porque os outros têm especialidades: tem santo protetor dos olhos, da voz, dos motoristas, dos endividados, dos encalhados, das causas perdidas.... São Tempo resolve tudo! Concorda não? Pense um tiquinho: Um dia a gente acorda, procura aquela ferida da pele ou da alma, feita por um bisturi ou por uma mentira...a marca ta lá feito um quelóide, mas não dói mais; A gente se espanta, duvida, quer certeza! Aperta, belisca, cutuca, remexe, revira o baú da memória, busca imagens, cheiros e sons...Nada acontece, nada brilha, nada pulsa, arde ou se dilata! Nada de ira, medo, dor ou saudade...feridas curadinhas da silva! Obra de quem? De São Tempo...Ele que abre semente, aprofunda raiz, desabrocha e despetala, faz nascer, morrer e renascer, determina o plantio e a colheita, o acender e o apagar, o ascender e o cair, o decair, recair, o levantar; o alçar e o alcançar, o rir e o chorar, o se perder e se encontrar.
Será que é em homenagem a São Tempo que igrejas quase sempre têm belos relógios? Aproveitando que hoje é dia de Todos os Santos, eu, devota de nenhum, faço minha prece: Tempo, senhor da vida, ensina-me a reconhecer teu poder e agradecer tua generosidade!

terça-feira, outubro 31, 2006

Eu comigo


Nada é mais importante do que conhecer a si mesmo. Depois que consegui saber o que queria e me livrar do que não queria, reconciliei-me comigo mesmo e aprendi a viver em minha própria companhia” (Anwart Sadat)

sexta-feira, outubro 27, 2006

Amanhece...



Amanhece...
Agradeço pela chuva da noite no telhado sem goteiras,
pelo aconchego do lar,
pelas janelas que abro e pelas da alma que se abrem para o espetáculo que é o nascer do sol entre nuvens cor-de-rosa e cor de ouro.
Que não nos faltem olhos e percepção para a grandeza do belo, do simples!

quarta-feira, outubro 25, 2006

Mais um dia cinzento


Mais um dia cinzento

A janela do meu quarto é a única da casa que não tem cortinas...gosto de receber os primeiros raios da manhã abrindo o concerto de passarinhos. Mas cadê meus raios de sol, cadê meus pardais, bem-te-vis e o beija-flor? Meus bichinhos devem estar de asa murcha e bico fechado, como eu. Hoje, mais uma vez abri os olhos pra janela cinzenta ao som de pneus arrastando água no asfalto...aí percebi quanto estava cinzenta...a porta do quarto, cinzenta...ao lado da cama cinzenta, num pedaço cinzento de jornal , Maiakovski dizendo que “ Não acabarão com o amor, nem as rusgas, nem a distância. Está provado, pensado, verificado...” Duvido!...na prática, tanto as rusgas quanto as rugas e a distância acabam com o amor, sim...pelo menos a forma mais “popular”de amor...Mas não tô a fim de falar de amor; entrei aqui pra falar de cinzento...abro o estojo cinzento e pego meus óculos...abro a porta cinzenta e quase piso na gata gorda e cinzenta, de olhos amarelos cor de sol, esparramada no tapete preto meio cinzento. O banheiro é também todo cinzento, com exceção do teto que é branco; daí começo a pensar como seria triste o mundo cinzento...mas noutro cômodo da casa um belo vaso de amarílis lindamente vermelhas, presente da minha norinha nada cinzenta, me faz emprenhar de uma idéia que será parida em tela e tinta logo, logo: uma flor vermelha quebrando o cinzento quase preto de uma parede de pedras. Olhando o jardim ressaqueado de tanta água, vejo um tronco verdinho de musgo, um branquíssimo copo-de-leite, hortênsias vacilantes entre o rosa e o lilás, e romãs avermelhando...daí em vez de continuar cinzenta, começo a enumerar as boas coisas dos dias cinzentos: inventar uma comidinha bem gostosa e colorida, tomar chocolate quente, vinho tinto, ler debaixo do edredom, comer pipoca, ouvir Mercedes Sosa dando gracias a la vida (valeu, Fernandinho!), ver um filme e pintar, pintar muuuuito e esperar o sol.
Sol, venha logo! Preciso de você e do azul para secar e abrir minhas asas!

terça-feira, outubro 10, 2006

Estou a dois passos


Estou a dois passos do paraíso...exagero né? mas estar de férias é quase isso...com ou sem viagem, só de ficar livre do compromisso com o relógio e os "processos", poder passar o dia de chinelo e "shortão" já é bom demais...
À minha meia dúzia de "visitantes", se demorar atualizar esse depósito de abobrinhas é que fui por aí com meu amigo vento, ou estou perdida entre telas, tintas, letras e lentes...mas volto logo!

Cresça não, menininha!


Cresça não, menininha!
Tenha o mundo do tamanho dos seus sonhos e os sonhos ao alcance dos seus braços!
Seja uma mulher gigante de alma, mas seja sempre minha menininha, viu?

segunda-feira, outubro 09, 2006

Tontas Letras


Tontas letras
(Vilma Santos - Uma noite qualquer de 2002)

Estrelas...
Letras...
Tantas e tontas
Tantas estrelas
Letras tão tontas
Tortas linhas
Tanto querer
Sem sentir
Sem ti
Sem tato
Sem olfato
Só querer
Contato
Só sonhar
Som e ar
Sol e mar
Sem amar
Sim, há mar!
E garrafas
E náufragos
E mensagens
E memória
Da pele
Da boca
Do gosto do beijo
Tonto de estrelas...

domingo, outubro 08, 2006

Asaberta


Hoje tô assim oh! de asa aberta e brilhante! Dia desses escrevi algo sobre meu pé de romã inspirada em um texto de Fernanda Takai, aquela do Pato Fu, e disse isso a ela por e-mail; hoje tive a surpresa agradável de receber resposta do e-mail e um gentil comentário ao texto, aqui no meu guarda-abobrinhas. Fiquei feliz! Obrigada de novo, Fernanda!

Beleza nossa de cada dia



Quem olhou para o céu hoje, por volta de 11 horas teve o prazer de ver o deslumbrante espetáculo que tentei captar e divido aqui com quem não viu.

sexta-feira, outubro 06, 2006

INFINITO PORQUE DURA


Letra puxa letra...Tem dias que a folha fica branca mesmo, ou a tela cinzenta...de repente, de um texto no jornal, na revista, até de uma placa de anúncio na rua, vem a inspiração.
Sempre que chego do trabalho, tenho meu momento “relax”: vinho e notícia...ontem uma bela reportagem resultou em comida pro asazul.blogspot, em jejum há alguns dias...
Apesar das “quebradas de cara”, de até hoje só ter encontrado o “Eterno enquanto dure” ainda acredito em AMOR que dure por ser eterno e histórias de amor verdadeiro me emocionam...
Em dias de relações descartáveis, em que nós mulheres somos produtos altamente perecíveis com prazo de validade curtíssimo, a história de amor de Dona Tereza com 87 anos e Seu Elpídio com 93, completou 70 anos e vale ser lida, mostrada, comentada e registrada.
Na página 38, caderno Cidades, do Correio Braziliense de ontem (5 de outubro de 2006), ilustrada pela “falante” foto de Gustavo Moreno, que tive a audácia de copiar e mostrar aqui (fotografei a folha do Jornal, acho que não fere direitos autorais, fere?), sob o título INFINITO PORQUE DURA, Marcelo Abreu conta lindamente a história cuja essência enxergo nas belas palavras:
“...Depois de sete décadas, essa é, ainda uma linda história de amor. Dessas que não se lêem mais nos livros, não se encontram mais em qualquer esquina. Em que não se esbarra mais pelas praças – a não ser em Planaltina. É uma história de amor tão grande que uma vida inteira ainda será muito pouco para cabê-la.”
O que tem de fantástico? Nada e tudo. Apenas um casal que soube cuidar de um tesouro: o AMOR que tem sido tão desvalorizado.
Tomara haja mesmo outras vidas e que tudo valha a pena!

sexta-feira, setembro 29, 2006

Mais Neruda


Não é que ele gostava de gatos?
Trecho do poema
Ode ao Gato
(Pablo Neruda)
"...O gato, só o gato apareceu completo e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro..."

Porque hoje é Sexta...


Porque hoje é sexta, porque os dias "não se descartam nem se somam", apenas vêm e vão para ser vividos e as noites idem...porque noites de sexta-feira são para vinho, poesia e boa companhia, um tiquinho de Neruda!
POEMA XVIII
(Pablo Neruda)

Os dias não se descartam nem se somam, são abelhas
que arderam de doçura ou enfureceram
o aguilhão: o certame continua,
vão e vêm as viagens do mel à dor.
Não, não se desfia a rede dos anos: não hà rede.
não caem gota a gota de um rio: não há rio.
O sonho não divide a vida em duas metades,
nem a ação, nem o silêncio, nem a virtude:
a vida foi como uma pedra, um só movimento,
uma única fogueira que reverberou na folhagem,
uma flecha, uma só, lenta ou ativa, um metal
que subiu e desceu queimando em teus ossos.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Meu pé de romã


Quem escreve, sabe como a palavra tem vida própria...Quando quer sair, fica comichando feito um bichinho e não adianta tentar prendê-la, uma hora arrebenta os diques...Às vezes dá uma vontade danada de falar de algo que pra nós é importante mas para outros pode parecer bobagem...então a gente censura, refreia, tenta engolir, mas a idéia fica ali cutucando, aperreando até achar uma brecha e sair...e depois, o que é bobagem, o que é importante? Se o “papa” das letras, Drummond, via em uma pedra no meio do caminho ou numa velha cadeira de balanço, motivo para escrever, porque eu que apenas “escrevinho” como uma válvula de escape e sou “lida” por meia dúzia de amigos, não posso falar da minha primeira romã? Sempre quis ter em meu quintal um pé de romã carregadinho, feito árvore de Natal...Há pouco mais de um ano ganhei uma delicada mudinha, presente da minha cunhada ...plantei, cultivei com o maior carinho, mas descrente de vê-la frutificar...Veio o primeiro botãozinho, fotografei...abriu a flor fotografei...mas o fruto não veio...
Agora, há uns três meses, uma nova florada e a primeira romã...Pra variar, fotografei com vontade de escrever sobre isso...mas vou deixando de lado e a vontade de escrever crescendo junto com a fruta, que está linda e saudável...acho que neste ano terei uma bela árvore de Natal de suculentas bolas rosadas.
Não é que hoje, no caderno Cultura do Correio Braziliense, Fernanda Takai , que muito admiro, escreveu sob o título “Flora” palavrinhas deliciosas sobre jabuticaba e romã? Criei coragem e aqui estou com minha primeira romã. Obrigada, por “aflorar”minha manhã, Fernanda!

E então é Primavera!!!


E então é primavera!
Que haja flores nos campos, nos vasos, nas janelas,
nas praças, nos céus, nas almas e nos corações!
Que haja "flores vencendo canhões!
Que floresça a Paz!

quinta-feira, setembro 21, 2006

Dia da Árvore


Dia da Árvore


Que um minutinho só a cada dia, paremos para pensar o que seria o mundo sem árvores!
Um minutinho só para relembrar aquelas belas lições que aprendemos desde cedo sobre tudo de bom que árvores nos dão: raízes, folhas, casca,seiva que curam e perfumam; frutos que alimentam; madeira que abriga, protege, aquece...sombra que acolhe .
Um minutinho só para ensinar às nossas crianças que papel também vem de árvore e árvore nasce de semente que qualquer um pode lançar na terra...E aí quem sabe, chegue o tempo em que todo dia será dia de plantar, cultivar ou pelo menos proteger uma árvore?
Quem sabe, então, a árvore seja lembrada além do dia 21 de setembro?!

Flores pra você!


Flores pra você!

Amigo a gente escolhe? Acho que não..
Amigo a gente encontra! ou será que reencontra? A verdade é que amigo de verdade é um irmão eleito pelo coração.
Fazer amizade com gente extrovertida é fácil...mas como será que se aproximam duas caladinhas, que costumam sentar nas primeiras cadeiras do ônibus do Órgão onde trabalham e ficar observando o céu pela janela? Não me lembro mesmo como foi nosso primeiro contato...mas sei que faz muito tempo e dali nasceu uma amizade que a cada dia se solidifica...não tive o privilégio de ter irmãs, mas tenho duas de coração; a que “nasceu” primeiro na minha vida, é mais “intro” que eu e não iria gostar de ver o nome publicado aqui, mas é uma “Mulher de Verdade” e sabe muito bem que mora no meu coração...a segunda, aniversaria hoje e a ela desejo tudo de belo que possa caber na palavra PAZ!
Flores pra você! Escolhi angélicas porque são simples, raras, delicadas e duradouras apesar de parecerem frágeis, qualidades que admiramos não é?
Feliz Aniversário, Chris!

quarta-feira, setembro 20, 2006

Manhãs


Manhãs

Como são belas as manhãs! Entram pelas janelas, pelos tímpanos, pelas narinas...
Manhãs cheiram a lavanda a banho fresco, a relva molhada; têm gosto de pão quente, café e chocolate ...
Manhãs têm de toques de sino, canto de passarinho, chamado de buzina
Manhãs são douradas, rosadas, orvalhadas, macias como pétalas...
Manhãs têm correria pra pegar o trânsito, pra fugir do trânsito, pra pegar o “trampo” pra pegar no tranco...
Manhãs afastam o pesadelo da noite mal dormida, são esperança de nova vida, nova ida...
Manhãs são viajantes seguindo caminho, aves saindo do ninho.
Manhãs são recomeços.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Fragmentos III


Trecho do livro "Intermitências da Morte" de José Saramago, transcrito fielmente, por isso a diferença de pontuação:

“...as mãos são dois livros abertos, não pelas razões supostas ou autênticas, da quiromancia, com as suas linhas do coração, da vida, da vida, meus senhores, ouviram bem, da vida, mas porque falam quando se abrem ou se fecham, quando acariciam ou golpeiam, quando enxugam uma lágrima ou disfarçam um sorriso, quando se pousam sobre um ombro ou acenam um adeus, quando trabalham, quando estão quietas, quando dormem, quando despertam, ...”

Fragmentos II


Expressivo fragmento do poema "No caminho com Maiakovski, de Eduardo Alves da Costa...Às vezes por falta de um grito, perde-se uma boiada...A palavra "NÃO" tem o mesmo tamanho da palavra "SIM" e ambas são indigestas se engolidas quando devem ser proferidas.
"Na primeira noite eles se aproximam,
colhem uma flor de nosso jardim
e não dizemos nada.
Na segunda noite já não se escondem:
pisam nas flores, matam nosso cão
e não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta,
e porque não dissemos nada,
já não podemos dizer mais nada"

Fragmentos


Hoje, revirando meus guardados, encontrei alguns fragmentos de textos que me agradam muito. Este não me lembro bem de onde tirei, mas acho que foi do livro "A Caixa Preta" de Amós Oz.

"Por acaso há humildade na terra? Aparentemente qualquer um pode fazer o que quiser dela: cavar, revirar, plantar. Mas no fim ela engole todos os que a dominam. E fica lá, num silêncio eterno."

quinta-feira, setembro 14, 2006

E então serás eterno...


Cântico VI
(Cecília Meireles)

Tu tens um medo: Acabar.
Não vês que acaba todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

A Arte da Vida


Poucas palavras, muito significado! Gosto muito disso!

A arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte.
(Mahatma Gandhi)

terça-feira, setembro 12, 2006

E haverá girassóis em todas as janelas

É um texto longo, mas rico de beleza!

ESTATUTO DO HOMEM E DA VIDA
(Thiago de Mello)
Art. 1: Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida e que de mãos dadas trabalharemos todos pela vida verdadeira.
Art. 2: Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Art. 3: Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.
Art. 4: Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu. Parágrafo único: o homem confiar no homem como um menino confia em outro menino.
Art. 5: Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silencio nem a armadura das palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.
Art. 6: Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Art. 7: Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.
Art. 8: Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar amor a quem se ama sabendo que é a água que dá a planta o milagre da flor.
Art. 9: Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal do seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o que da a planta o milagre da flor.
Art. 10: Fica permitido a qualquer pessoa, a qualquer hora da vida, o uso do traje branco.
Art. 11: Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama o belo e por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.
Art. 12: Decreta-se que nada será obrigado nem permitido. Tudo será permitido, sobretudo brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela. Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.
Art. 13: Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.
Art. 14: Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio e sua morada será sempre o coração do homem.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Além do Véu


Além do véu

Acabei de ler um livro muito interessante: Por Trás do Véu de Ísis (Uma investigação sobre a comunicação entre vivos e mortos) de Marcel Souto Maior. Mas não estou aqui para falar do conteúdo do livro que é assunto bem polêmico...quero falar, para variar, de poesia;.dos belos poemas de Beto – Luiz Alberto Barbosa Gomes Angeiras, que passou para o outro lado aos 25 anos, assassinado por policiais militares em 1994, num condomínio na cidade de São Pedro da Aldeia, no Rio de Janeiro. Aí vão duas das jóias, que amigos do rapaz juntaram publicando, em homenagem póstuma, o livro “Idos Gemidos”. A julgar pela amostra, vale conferir:

Entre duas pegadas
Há um espaço
Que chamamos passo

Há um espaço
Que pisando em falso
Chamamos
Q
U
E
D
A

Este era o preferido da mãe de Beto, Maria Regina Angeiras:

Tua falta, metade fita
É metade lenda,
Distinta farsa

Tua falta é quase nada
É metade linda
Metade faca

Tua falta quase tudo
Vento que espalha
Gota, migalha

Impossibilidade

sexta-feira, setembro 08, 2006

Desejos

Acho que ele pensou em tudo que existe de melhor... é o que desejo a todos os meus "visitantes"...
DESEJOS
(Drummond)
Desejo a vocês...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

Florilua


Florilua
(Vilma Santos)
No meio do caminho havia uma flor...
Havia uma flor no meio do caminho...
Entre a graminha e a erva daninha
Eis a bela Pequenina...
Tão singela!!!
Delicada,
Cor de sonho, de vestido de bailarina...
No céu de sol
Havia uma lua
fina e brancafeito unha...
lua de UMA
Uma da tarde
de um domingo azul

quarta-feira, setembro 06, 2006

Pra Refletir



Você não é um ser humano que está passando por uma experiência espiritual. Você é um ser espiritual que está vivenciando uma experiência humana.
(Wayne W. Dyer)

segunda-feira, setembro 04, 2006

Que Deus me dê!



"Quando todos os dias ficam iguais, é porque deixamos de perceber as coisas boas que aparecem em nossas vidas." (Paulo Coelho)

"Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um "sim" ou um "não" pode mudar toda a nossa existência." (Paulo Coelho)

Que Deus me dê a cada dia, coragem para mudar o que posso e sabedoria para aceitar o que não posso! Que não me deixe chegar a noite para perceber que perdi o nascer do sol nem saborear o fruto sem ter contemplado a beleza da flor, do broto, da semente!