quarta-feira, novembro 29, 2006

Semelhanças


Qualquer semelhança da tela com uma foto National Geographic não é mera coincidência.

Muda tudo, mudo eu ...quanto mais mudo, mais muda fico...só não muda o jeito estranho como me chegam palavras de não sei onde, no meio da noite, e se não me levanto e encontro um papel onde despejá-las ficam lá martelando sem me deixar dormir...
Estas aí foram paridas ontem, assim do nada;

Semelhanças

Depois de VOCÊ
Não há riso nem lágrimas
Cinzas nem lavas
Desejo nem medo
Fogo nem gelo

Depois de VOCÊ
Não há carícia nem carência
Ausência nem presença
Sonho nem pesadelo
Não é tarde nem é cedo

Depois de VOCÊ
Não há esperança nem desespero
Caminhos nem desvios
Planos nem abismos
Não há caos nem há vazio

Depois de VOCÊ
Não há canto nem lamento
Encanto nem tormento ...
Há um NADA
Pleno de TUDO.

Qualquer semelhança com VOCÊ, é mera coincidência... VOCÊ não existe...é persona imaginária, comum...é qualquer um que seria se não fosse, que brinca de amar sem amor, que mina plantios de sonhos, ou que planta sonhos minados...é duas caras, uma metade, duas vidas meias verdades...uma máscara, uma mentira.

terça-feira, novembro 28, 2006

Temporada de Casca


Tudo bem! Sei que todo mundo já falou desse assunto, mas também quero falar...afinal, para escrever e fotografar, cada um o tem sua marca...o mesmo assunto visto ou comentado por mil pessoas renderá mil resultados diferentes nenão?
Fala-se muito da doença da moda, ANOREXIA que matou duas garotas há poucos dias...mas não é só esta... há algum tempo garotos morreram e ficaram doentes depois de injetar em seus corpos “remedinho” pra cavalo (ou pra boi?) buscando músculos; vez em quando morre uma mulher ao fazer em qualquer “açougue”’ inofensivas lipos ou implante de silicone nas “protuberâncias de cima e de baixo”, enquanto outras ficam carecas fazendo “baratinho” escovinhas definitivas, expondo-se a produtos químicos desconhecidos só porque alguém disse que cabelo lisinho é bonitinho; perdem a expressão enchendo o rosto de toxinas em nome da eterna juventude e acabam com cara de boneca inflável...Não sou nenhuma Irmã Paula, não me considero imune a qualquer vaidade, mas acho que somos máquinas muito perfeitas pra viver APENAS em função dessa casquinha, que escultural, magrinha, cheiinha, obesa ou esquelética vai virar “pozinho podrinho” do mesmo jeito...Claro que devemos valorizar o corpo, sim, pois é ele a embalagem , a morada da essência, nosso cartão de visitas; exercício é saudável, alimentação equilibrada também...mas isso está bem longe de se matar de fome ou de tanto “malhar” na busca insaciável de um “corpo perfeito”, ou de uma beleza que nada mais é que conceito criado pela cruel ditadura da moda...depois, o que é corpo perfeito? Um dia as belas são as branquinhas rechonchudas, outro dia as de gordura zero, outro dia as morenas cheias de curvas; hoje cabelo bonito é loiro cacheado, amanhã é vermelho liso e por aí vai...
Que tal, malhar um pouquinho os neurônios, ver a casca como proteção de
Sua Excelência O MIOLO, e dar a ele um tantinho mais de atenção? Porque na atual temporada, miolo engorda ou incomoda...o que interessa é a casca e quanto mais oca melhor! Fica mais fácil de engatar as “fashion” correntinhas escravizadoras da cor da moda.
Quem sabe, um dia as meninas comecem a enxergar que há vida além da carreira de modelo?

Porque somos águias...


"...abramos as asas e voemos. Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar." ( Do livro "A águia e a galinha" de Leonardo Boff )

Nada mais deprimente que ver uma águia negar sua condição, ciscando e cacarejando.

terça-feira, novembro 14, 2006

Coisas e Outras Coisas


Noite dessas voltando pra casa, num engarrafamento de tirar do sério a mais zen das criaturas, lembrei-me das palavras de um doce menininho, que do alto da sabedoria e pureza de seus sete anos deixou-me segurando o queixo com esta declaração:

“Eu não gosto muito das coisas que o homem cria... carro, moto, coisas assim...gosto mais das coisas que Deus criou...planta, bicho...”

Sem a inocência dele, sei que as “coisas que o homem cria” são necessárias, mas viveria bem mais feliz num lugar que Deus criou, onde pudesse resolver tudo com as canelinhas que Deus me deu, sem depender de carro, sem buzina, sem engarrafamento...e se nesse lugar o SER fosse mais valorizado que o TER e o COMPRAR, pronto! Faltava mais nada! Mas, falando de coisas, achei muito interessante o trecho de texto que transcrevo abaixo. Não chego ao ponto de gostar mais de coisas que de pessoas...Gosto de pessoas-pessoas que vão ficando cada vez mais raras...o que tem-se “multiplicado em excesso”, são as pessoas-coisas, que se deixam tratar como coisas, ou que insistem em “coisificar” pessoas...entre estas e as coisas, fico com as coisas...

“Eu sonho com uma língua composta unicamente de adjetivos como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.

Com isso, eu também sonho...com certeza, a linguagem dos animais é desprovida de máscaras e armadilhas... Cachorro quando quer distância, rosna, eriça o pêlo, mostra os dentes; quando vai com a cara da gente, abana o rabo, se aproxima, e dependendo de nossa reação teremos um amigo pra toda vida...e assim são os bichos...sabemos o que esperar deles, enquanto gente é capaz de acariciar com uma mão e apunhalar com a outra ou de envenenar sorrindo e dizendo “Te amo”...


De Gramática e de linguagem
(Mário Quintana)

“E havia uma gramática que dizia assim: “Substantivo (concreto) é tudo quando indica pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta.” Eu gosto das cousas. As cousas sim! ...As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se em excesso. As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém. Uma pedra. Um armário.Um ovo, nem sempre, ovo pode estar choco; é inquietante...As cousas vivem metidas com as suas cousas. E não exigem nada. Apenas que não as tirem do lugar onde estão. E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta. Para quê? Não importa: João vem! E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão, amigo ou adverso...João será definitivo quando esticar a canela. Morre, João...mas o bom senso mesmo, são os adjetivos, os puros adjetivos isentos de qualquer objeto. Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso. Sonoro. Lento. Eu sonho com uma língua composta unicamente de adjetivos como decerto é a linguagem das plantas e dos animais... “

segunda-feira, novembro 13, 2006

Desvalores


De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. ( Rui Barbosa)

quarta-feira, novembro 08, 2006

De livros e palavras


Disse Padre Antônio Vieira:
Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.
Disse Mário Quintana:

“Os livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas.

Digo eu:
Se livros são feitos de palavras que traduzem idéias, logo o que muda as pessoas é a palavra, pelo menos a imagem que pessoas fazemos umas das outras...
A palavra que constrói também destrói...depende da "direção do vento" nenão?

O Sol


Tô mentalmente preguiçosa...só pescando palavrinhas pensantes interessantes ou apenas sonoras...Aí vão umas bem saborosas do Arnaldo Antunes:

O Sol
Arnaldo Antunes

Nessa época o sol é mais frio
Porque ele se divide em mil
Mas para lá de janeiro
Ele volta a ficar inteiro
Agora o sol parece uma laranja madura
Porque ele está sem pintura
Mas quando entra março
Parece a cara de um palhaço
Tem dias que o sol vai embora
Tem noites que não tem aurora
Às vezes ele fica no Japão
E só volta quando chega o verão
Agora que o sol está bravo
Parece uma moeda de um centavo
Mas quando se alegra, o sol
Fica maior que uma bola de futebol
O sol está brilhando muito claro
Porque hoje é seu aniversário
Nesses dias ele quase cega
E quem é cego quase enxerga
O sol está sempre ali no céu
A terra é que faz o carrossel
De noite o sol apaga sua chama
E dorme debaixo da minha cama

terça-feira, novembro 07, 2006

Levezas


Poesia leve, suave feito nuvem de algodão.

Caixinha de Música
(Matilde Rosa Araújo)
Grilo, grilarim
Tens um canto azul
Na noite de cetim!
Cigarra, cigarraia
Tens um canto branco
No dia de cambraia
Formiga, miga, miga
Só tu cantas os nadas
Do silêncio do Sol
Das estrelas caladas.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Tempo, Tempo, Tempo...


“Tempo, tempo, tempo...Senhor tão bonito quanto a cara do meu filho...," Tempo que passa mudando o que eu sinto, me poniendo vieja,!” ... Tempo que não pára, tempo que nunca temos para o que devemos e estamos sempre devendo para o que queremos.

Como é cantado o tempo! Tanto quanto ou mais que a lua?
Mais que conceito de presente, passado e futuro, mais que dimensão da Física, mais que categoria verbal, mais que inspiração artística, o tempo é um de todos os Santos , acho eu e acho ainda o mais poderoso de todos, porque os outros têm especialidades: tem santo protetor dos olhos, da voz, dos motoristas, dos endividados, dos encalhados, das causas perdidas.... São Tempo resolve tudo! Concorda não? Pense um tiquinho: Um dia a gente acorda, procura aquela ferida da pele ou da alma, feita por um bisturi ou por uma mentira...a marca ta lá feito um quelóide, mas não dói mais; A gente se espanta, duvida, quer certeza! Aperta, belisca, cutuca, remexe, revira o baú da memória, busca imagens, cheiros e sons...Nada acontece, nada brilha, nada pulsa, arde ou se dilata! Nada de ira, medo, dor ou saudade...feridas curadinhas da silva! Obra de quem? De São Tempo...Ele que abre semente, aprofunda raiz, desabrocha e despetala, faz nascer, morrer e renascer, determina o plantio e a colheita, o acender e o apagar, o ascender e o cair, o decair, recair, o levantar; o alçar e o alcançar, o rir e o chorar, o se perder e se encontrar.
Será que é em homenagem a São Tempo que igrejas quase sempre têm belos relógios? Aproveitando que hoje é dia de Todos os Santos, eu, devota de nenhum, faço minha prece: Tempo, senhor da vida, ensina-me a reconhecer teu poder e agradecer tua generosidade!