sexta-feira, setembro 29, 2006

Mais Neruda


Não é que ele gostava de gatos?
Trecho do poema
Ode ao Gato
(Pablo Neruda)
"...O gato, só o gato apareceu completo e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro..."

Porque hoje é Sexta...


Porque hoje é sexta, porque os dias "não se descartam nem se somam", apenas vêm e vão para ser vividos e as noites idem...porque noites de sexta-feira são para vinho, poesia e boa companhia, um tiquinho de Neruda!
POEMA XVIII
(Pablo Neruda)

Os dias não se descartam nem se somam, são abelhas
que arderam de doçura ou enfureceram
o aguilhão: o certame continua,
vão e vêm as viagens do mel à dor.
Não, não se desfia a rede dos anos: não hà rede.
não caem gota a gota de um rio: não há rio.
O sonho não divide a vida em duas metades,
nem a ação, nem o silêncio, nem a virtude:
a vida foi como uma pedra, um só movimento,
uma única fogueira que reverberou na folhagem,
uma flecha, uma só, lenta ou ativa, um metal
que subiu e desceu queimando em teus ossos.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Meu pé de romã


Quem escreve, sabe como a palavra tem vida própria...Quando quer sair, fica comichando feito um bichinho e não adianta tentar prendê-la, uma hora arrebenta os diques...Às vezes dá uma vontade danada de falar de algo que pra nós é importante mas para outros pode parecer bobagem...então a gente censura, refreia, tenta engolir, mas a idéia fica ali cutucando, aperreando até achar uma brecha e sair...e depois, o que é bobagem, o que é importante? Se o “papa” das letras, Drummond, via em uma pedra no meio do caminho ou numa velha cadeira de balanço, motivo para escrever, porque eu que apenas “escrevinho” como uma válvula de escape e sou “lida” por meia dúzia de amigos, não posso falar da minha primeira romã? Sempre quis ter em meu quintal um pé de romã carregadinho, feito árvore de Natal...Há pouco mais de um ano ganhei uma delicada mudinha, presente da minha cunhada ...plantei, cultivei com o maior carinho, mas descrente de vê-la frutificar...Veio o primeiro botãozinho, fotografei...abriu a flor fotografei...mas o fruto não veio...
Agora, há uns três meses, uma nova florada e a primeira romã...Pra variar, fotografei com vontade de escrever sobre isso...mas vou deixando de lado e a vontade de escrever crescendo junto com a fruta, que está linda e saudável...acho que neste ano terei uma bela árvore de Natal de suculentas bolas rosadas.
Não é que hoje, no caderno Cultura do Correio Braziliense, Fernanda Takai , que muito admiro, escreveu sob o título “Flora” palavrinhas deliciosas sobre jabuticaba e romã? Criei coragem e aqui estou com minha primeira romã. Obrigada, por “aflorar”minha manhã, Fernanda!

E então é Primavera!!!


E então é primavera!
Que haja flores nos campos, nos vasos, nas janelas,
nas praças, nos céus, nas almas e nos corações!
Que haja "flores vencendo canhões!
Que floresça a Paz!

quinta-feira, setembro 21, 2006

Dia da Árvore


Dia da Árvore


Que um minutinho só a cada dia, paremos para pensar o que seria o mundo sem árvores!
Um minutinho só para relembrar aquelas belas lições que aprendemos desde cedo sobre tudo de bom que árvores nos dão: raízes, folhas, casca,seiva que curam e perfumam; frutos que alimentam; madeira que abriga, protege, aquece...sombra que acolhe .
Um minutinho só para ensinar às nossas crianças que papel também vem de árvore e árvore nasce de semente que qualquer um pode lançar na terra...E aí quem sabe, chegue o tempo em que todo dia será dia de plantar, cultivar ou pelo menos proteger uma árvore?
Quem sabe, então, a árvore seja lembrada além do dia 21 de setembro?!

Flores pra você!


Flores pra você!

Amigo a gente escolhe? Acho que não..
Amigo a gente encontra! ou será que reencontra? A verdade é que amigo de verdade é um irmão eleito pelo coração.
Fazer amizade com gente extrovertida é fácil...mas como será que se aproximam duas caladinhas, que costumam sentar nas primeiras cadeiras do ônibus do Órgão onde trabalham e ficar observando o céu pela janela? Não me lembro mesmo como foi nosso primeiro contato...mas sei que faz muito tempo e dali nasceu uma amizade que a cada dia se solidifica...não tive o privilégio de ter irmãs, mas tenho duas de coração; a que “nasceu” primeiro na minha vida, é mais “intro” que eu e não iria gostar de ver o nome publicado aqui, mas é uma “Mulher de Verdade” e sabe muito bem que mora no meu coração...a segunda, aniversaria hoje e a ela desejo tudo de belo que possa caber na palavra PAZ!
Flores pra você! Escolhi angélicas porque são simples, raras, delicadas e duradouras apesar de parecerem frágeis, qualidades que admiramos não é?
Feliz Aniversário, Chris!

quarta-feira, setembro 20, 2006

Manhãs


Manhãs

Como são belas as manhãs! Entram pelas janelas, pelos tímpanos, pelas narinas...
Manhãs cheiram a lavanda a banho fresco, a relva molhada; têm gosto de pão quente, café e chocolate ...
Manhãs têm de toques de sino, canto de passarinho, chamado de buzina
Manhãs são douradas, rosadas, orvalhadas, macias como pétalas...
Manhãs têm correria pra pegar o trânsito, pra fugir do trânsito, pra pegar o “trampo” pra pegar no tranco...
Manhãs afastam o pesadelo da noite mal dormida, são esperança de nova vida, nova ida...
Manhãs são viajantes seguindo caminho, aves saindo do ninho.
Manhãs são recomeços.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Fragmentos III


Trecho do livro "Intermitências da Morte" de José Saramago, transcrito fielmente, por isso a diferença de pontuação:

“...as mãos são dois livros abertos, não pelas razões supostas ou autênticas, da quiromancia, com as suas linhas do coração, da vida, da vida, meus senhores, ouviram bem, da vida, mas porque falam quando se abrem ou se fecham, quando acariciam ou golpeiam, quando enxugam uma lágrima ou disfarçam um sorriso, quando se pousam sobre um ombro ou acenam um adeus, quando trabalham, quando estão quietas, quando dormem, quando despertam, ...”

Fragmentos II


Expressivo fragmento do poema "No caminho com Maiakovski, de Eduardo Alves da Costa...Às vezes por falta de um grito, perde-se uma boiada...A palavra "NÃO" tem o mesmo tamanho da palavra "SIM" e ambas são indigestas se engolidas quando devem ser proferidas.
"Na primeira noite eles se aproximam,
colhem uma flor de nosso jardim
e não dizemos nada.
Na segunda noite já não se escondem:
pisam nas flores, matam nosso cão
e não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta,
e porque não dissemos nada,
já não podemos dizer mais nada"

Fragmentos


Hoje, revirando meus guardados, encontrei alguns fragmentos de textos que me agradam muito. Este não me lembro bem de onde tirei, mas acho que foi do livro "A Caixa Preta" de Amós Oz.

"Por acaso há humildade na terra? Aparentemente qualquer um pode fazer o que quiser dela: cavar, revirar, plantar. Mas no fim ela engole todos os que a dominam. E fica lá, num silêncio eterno."

quinta-feira, setembro 14, 2006

E então serás eterno...


Cântico VI
(Cecília Meireles)

Tu tens um medo: Acabar.
Não vês que acaba todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

A Arte da Vida


Poucas palavras, muito significado! Gosto muito disso!

A arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte.
(Mahatma Gandhi)

terça-feira, setembro 12, 2006

E haverá girassóis em todas as janelas

É um texto longo, mas rico de beleza!

ESTATUTO DO HOMEM E DA VIDA
(Thiago de Mello)
Art. 1: Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida e que de mãos dadas trabalharemos todos pela vida verdadeira.
Art. 2: Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Art. 3: Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.
Art. 4: Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu. Parágrafo único: o homem confiar no homem como um menino confia em outro menino.
Art. 5: Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silencio nem a armadura das palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.
Art. 6: Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Art. 7: Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.
Art. 8: Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar amor a quem se ama sabendo que é a água que dá a planta o milagre da flor.
Art. 9: Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal do seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o que da a planta o milagre da flor.
Art. 10: Fica permitido a qualquer pessoa, a qualquer hora da vida, o uso do traje branco.
Art. 11: Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama o belo e por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.
Art. 12: Decreta-se que nada será obrigado nem permitido. Tudo será permitido, sobretudo brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela. Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.
Art. 13: Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.
Art. 14: Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio e sua morada será sempre o coração do homem.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Além do Véu


Além do véu

Acabei de ler um livro muito interessante: Por Trás do Véu de Ísis (Uma investigação sobre a comunicação entre vivos e mortos) de Marcel Souto Maior. Mas não estou aqui para falar do conteúdo do livro que é assunto bem polêmico...quero falar, para variar, de poesia;.dos belos poemas de Beto – Luiz Alberto Barbosa Gomes Angeiras, que passou para o outro lado aos 25 anos, assassinado por policiais militares em 1994, num condomínio na cidade de São Pedro da Aldeia, no Rio de Janeiro. Aí vão duas das jóias, que amigos do rapaz juntaram publicando, em homenagem póstuma, o livro “Idos Gemidos”. A julgar pela amostra, vale conferir:

Entre duas pegadas
Há um espaço
Que chamamos passo

Há um espaço
Que pisando em falso
Chamamos
Q
U
E
D
A

Este era o preferido da mãe de Beto, Maria Regina Angeiras:

Tua falta, metade fita
É metade lenda,
Distinta farsa

Tua falta é quase nada
É metade linda
Metade faca

Tua falta quase tudo
Vento que espalha
Gota, migalha

Impossibilidade

sexta-feira, setembro 08, 2006

Desejos

Acho que ele pensou em tudo que existe de melhor... é o que desejo a todos os meus "visitantes"...
DESEJOS
(Drummond)
Desejo a vocês...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

Florilua


Florilua
(Vilma Santos)
No meio do caminho havia uma flor...
Havia uma flor no meio do caminho...
Entre a graminha e a erva daninha
Eis a bela Pequenina...
Tão singela!!!
Delicada,
Cor de sonho, de vestido de bailarina...
No céu de sol
Havia uma lua
fina e brancafeito unha...
lua de UMA
Uma da tarde
de um domingo azul

quarta-feira, setembro 06, 2006

Pra Refletir



Você não é um ser humano que está passando por uma experiência espiritual. Você é um ser espiritual que está vivenciando uma experiência humana.
(Wayne W. Dyer)

segunda-feira, setembro 04, 2006

Que Deus me dê!



"Quando todos os dias ficam iguais, é porque deixamos de perceber as coisas boas que aparecem em nossas vidas." (Paulo Coelho)

"Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um "sim" ou um "não" pode mudar toda a nossa existência." (Paulo Coelho)

Que Deus me dê a cada dia, coragem para mudar o que posso e sabedoria para aceitar o que não posso! Que não me deixe chegar a noite para perceber que perdi o nascer do sol nem saborear o fruto sem ter contemplado a beleza da flor, do broto, da semente!

Por amor?


Por amor?

Matutando, eu cá com meus botões: Quantas vezes dizemos sofrer por amor?! Não pode ser! O amor não é, como dizemos, cego, amigo da loucura...isso pode ser paixão, tesão, qualquer coisa, amor não!
O amor enxerga muito bem, é sensato, é fiel, é crescimento, é paz, harmonia, confiança, companheirismo. Sofrimento, nunca! O nosso mal é que quando encontramos alguém que agrada aos nossos sentidos, saímos, feito crianças seduzidas por uma barra de chocolate, propagando aos quatro ventos que encontramos nossa alma gêmea, nossa cara-metade, nossa outra asa; e cremos tanto nisso, que mesmo percebendo que as arestas aparadas voltaram a crescer, que o caminho que acreditávamos uno está se bifurcando, não temos coragem de admitir que não dá para dançar valsa ao som de catira, nem dá para seguir o mesmo rumo, um olhando para a frente em busca do amadurecimento, o outro olhando para trás tentando prender entre os dedos a areia da ampulheta; aí dizemos que o amor machuca, nos faz amargos, deixa cicatrizes...Não! o que faz isso é a dependência afetiva que é mestra em se mascarar e se fazer passar por AMOR; o que nos faz sofrer é a nossa incapacidade de reconhecer o que não é AMOR.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Setembro


“Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos”...
Setembro chegou...e se não há boas novas, há novas cores. Concorrendo com os roxos e amarelos, explodem em beleza os ipês brancos. Basta olhar um pouquinho além do asfalto e de nossas gaiolas de concreto para ver cores por todos os lados...há árvores vestidas de ouro e de cobre; folhas marrons, vermelhas e amarelas; até os eucaliptos retribuem a maldade irresponsável de quem lhes ateou fogo, oferecendo a beleza quase morta das tostadas folhas prateadas, ensinando a velha e difícil lição de pagar o mal com o bem...
É a terra que se prepara para receber asas e pétalas da primavera.