Brasília está seca, sedenta por chuva há mais de cem dias. Do meio da paisagem enegrecida pelas queimadas, entristecida pelos gramados mortos ou adormecidos, , surgem belezas contrastantes. Como sempre, viajo pela minha janela. No comecinho do Eixo sul, árvores de folhagem de tom marrom-avermelhado prendem meu olhar...logo mais, ao lado de um buraco, onde uma placa diz que está em obras a Estação 108 do Metrô, um esguio ipê amarelo rouba a cena. Bem que podiam batizar o local de Estação do Ipê. Agora meu olhar amarelou. São muitos ipês de silhuetas retorcidas, como se dançassem, talvez a dança da chuva. Em frente ao Banco Central , o mais belo de todos, vestido de amarelo escandaloso, gritante.Enquanto a primavera não chega, esta é a estação do ipê.
Depois desse presente aos olhos, um aos ouvidos: á hora da Ave Maria, ouço um sabiá (ou uma sabiá como preferia Tom) desafinado (sem trocadilhos)...ainda desconfio que venha do computador de algum dos colegas, ou de um toque de celular...apuro bem os ouvidos e tenho a certeza de que vem pela janela da gaiola de concreto onde estamos todos presos ao “abençoado” trabalho de resolver problemas inventados . Dá vontade de gritar: “gente, ouve o sabiá!” Mas pelas caras, ninguém percebeu o canto do iniciante. Sabiás experientes cantam de um jeito que ao meu ouvir parece: Qui foi Juão, Qui foi juão, qui foi que você fez? Esse novinho, fica só no “qui foi, qui foi”? Então sorrio por dentro. Sei que sabiá é metódico; com certeza voltará muitas outras tardes e poderei dizer: minha janela tem paineira onde canta o sabiá.
A beleza está aí, como em todos os anos, todos os dias, todos os momentos. Basta que nos disponhamos a recebê-la. Amanhece, anoitece, mudam as estações, as fases da lua, os humores e os amores, com platéia ou não.
As coisas são o que são. Significados, daremos ou não.
Próxima estação: IPÊ!
3 comentários:
QUANDO EU CRESCER, QUERO SER COMO VOCÊ!!!!!!!!!!!!
BEIJOS!!!
DINA
Meu amigo Zani há tempos me passou seu blog que só agora abri. Abri e tive uma bela surpresa: você é uma poetisa como há muito não via. Já publicou algum livro? Caso tenha feito, informe no blog, por favor.
Rosângela
Rosângela,
Muito obrigada pela visita e pelo elogio, mas não me acho com "cacife" para publicar um livro. Escrever, pra mim, é algo leve, sem compromisso, só pra da alma espantar os bichos.
Abraço!
Vilma
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