terça-feira, outubro 09, 2007

Camadas de tinta




Ganhei uma cabaça...certamente “saberia o que fazer com ela”. Foi colhida verde, mas depois de uma cirurgia “estripadora”, muita lavagem e muito sol, a cabaça estava pronta para receber tinta. Agora, a vez da cabeça. E era tanta idéia, que haja cabaça. Sei lá por que, talvez inspirada pela leitura sobre as terras das burcas, imaginei uma cabaça azul- céu com arabescos dourados. Pintei. Não gostei. Foi a coisa mais brega que saiu das minhas mãos; um verdadeiro azul-calcinha com rabiscos dourados. Uma camada de tinta branca deixou a cabaça novinha esperando outro comando da cabeça. O que seria? Algo parecido com arte marajoara? Quem sabe, bege e marrom ou flores em tons “desmaiados”, lembrando retratos antigos? Ou uma “nega maluca” em cores vivas? Ou uns abstratos em vermelho e preto? Ou barras gregas em preto e dourado? Ou?...De tanto “Ou”, saiu foi nada e a cabaça ficou meses esperando quietinha. Agora, sem quê nem pra quê, num repente de pouco mais de uma hora a cabaça virou melancia. Mas, percebi que meu impulso impediu-me de lembrar que a cabaça tinha uma cicatriz e que teria ficado bem legal do lado da casca, não do miolo. “Acho que vou virar a bicha do avesso!” O miolo vira casca e a casca vira miolo...Simples assim! Mais uns dias de dúvida, mais uma camada de tinta branca e eis minha melancia, do jeito que eu queria. E um pensamento: Pena que na vida, não se pode sobrepor camadas de tinta! Não dá para transformar abóbora em carruagem, cabaça oca em fruta suculenta, nem para mudar as cores e os rumos de nossas escolhas. Quase sempre, não há tempo para passar a limpo os rascunhos.

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