sexta-feira, março 30, 2007
quinta-feira, março 29, 2007
Vôo Solo
Vôo Solo
Disse Tom, que é impossível SER feliz sozinho...Talvez. Mas, se felicidade é um estado, é mais viável, ESTAR feliz. Há tanta coisa que me deixa feliz sozinha! Uma manhã de sol , céu “azul escândalo”, nuvem branca ou dourada, estrela cadente, sol nascente ou poente, lua cheia, nova ou crescente, grama orvalhada entre os dedos, botão de flor se abrindo, cantiga de passarinho, vento no bambuzal, silêncio total, dança de borboleta, bater de asas, queda dágua, espuma de onda, conchinha na areia, pedrinhas, chuva no telhado, um belo filme, um bom livro, uma canção suave, lavanda e alecrim, tomate com manjericão, macarrão quatro queijos, peixe no prato, vinho tinto seco merlot, bombom Ferrero Rocher, chocolate com menta, malas prontas pra viagem.
Disse Tom, que é impossível SER feliz sozinho...Talvez. Mas, se felicidade é um estado, é mais viável, ESTAR feliz. Há tanta coisa que me deixa feliz sozinha! Uma manhã de sol , céu “azul escândalo”, nuvem branca ou dourada, estrela cadente, sol nascente ou poente, lua cheia, nova ou crescente, grama orvalhada entre os dedos, botão de flor se abrindo, cantiga de passarinho, vento no bambuzal, silêncio total, dança de borboleta, bater de asas, queda dágua, espuma de onda, conchinha na areia, pedrinhas, chuva no telhado, um belo filme, um bom livro, uma canção suave, lavanda e alecrim, tomate com manjericão, macarrão quatro queijos, peixe no prato, vinho tinto seco merlot, bombom Ferrero Rocher, chocolate com menta, malas prontas pra viagem.
É, viajar sozinha, por que não? Muitas vezes viajei só, mas sempre havia alguém a minha espera. Dessa vez fui comigo mesma ao encontro de ninguém. Poderia escolher um “pacote”, ir de avião. Mas queria saber como anda a envergadura das minhas asas e minha capacidade de sobreviver só. Então, mãos à massa: escolher destino, hotel, o que fazer, onde comer, reduzir a bagagem ao estritamente necessário. Pantanal estava nos meus planos de outros carnavais e não é porque o vento mudou de direção que vou arriar as velas.
Primeiro inconveniente de viajar sozinha é não saber quem vai ocupar o assento ao lado e quase sempre é uma criatura espaçosa, com as pernas maiores que a cadeira e a cabeça pendente que insiste em cair no nosso ombro; por seis horas viajei em paz com minha janela, ninguém ao lado. Mas se era um teste de sobrevivência, não podia faltar a tal criatura...e veio um kit completo de grosseria; cheirava a álcool, despencou na cadeira feito um pacote, tirou os sapatos exalando gorgonzola, escancarou as pernas invadindo meu espaço. Fuzilei-o com um olhar que dizia tudo que precisava ouvir, baixei decididamente o braço separador das poltronas, fiz uma barreira com a bolsa que continha algumas coisinhas pontiagudas, enfiei os fones nos ouvidos, concentrei-me na paisagem voando pela janela e na música que não conseguia abafar o ronco da criatura que caiu em coma alcoólico e quatro horas depois desembarcou deixando-me em paz outra vez. Apesar disso, da precariedade das estradas e dos terminais rodoviários, por toda a beleza que conheci, voltaria ainda que de pau-de-arara. Meu vôo solo, acabou não sendo tão solo assim, pois como diz Dominguinhos, “amigos a gente encontra, o mundo não é só aqui...” No primeiro passeio estava com duas paulistas e onze alemães; no começo da manhã todo mundo isolado, cada um no seu canto...no fim da tarde eu já trocava informações com um casal alemão que mora no Rio Grande do Sul e despedi-me das paulistas com beijinhos e troca de e-mail; o taxista que deveria apenas me levar e buscar , tornou-se meu “guiamigo” nos dias seguintes. Decididamente, não estamos sós; para atrair gente basta descruzar os braços, olhar em volta e abrir ou entreabrir um sorriso, ainda que do tipo “Monalisa”, como dizem ser o meu. Já para atrair borboletas aprendi que é só fazer um “suco” de banana com água e açúcar e derramar no local onde se deseja tê-las; vou testar. E assim foi minha deliciosa aventura: acordar com uma orquestra de aves, ter a companhia de sanhaço azul no café da manhã, conviver com gente simples que desconhece o significado de muitas palavras, mas sabe perfeitamente o que é integridade e honestidade; gente que convive com bichos do mato como se fossem domésticos, respeitando e protegendo-os, gente que conhece a riqueza das matas pantaneiras que guardam verdadeiras farmácias: há plantas que servem de colírio, de antibiótico, de analgésico, de alimento; enfim num lugar onde não há médico, a mata resolve tudo.
É isso. Considero-me aprovada no teste: as asas, o GPS e o ímã pessoal funcionando direitinho. Aguardem-me cidades históricas de Minas, floresta amazônica, Fernando de Noronha, Campos do Jordão, Serras Gaúchas, Foz do Iguaçu, Machu Picchu, não necessariamente nessa ordem.
Primeiro inconveniente de viajar sozinha é não saber quem vai ocupar o assento ao lado e quase sempre é uma criatura espaçosa, com as pernas maiores que a cadeira e a cabeça pendente que insiste em cair no nosso ombro; por seis horas viajei em paz com minha janela, ninguém ao lado. Mas se era um teste de sobrevivência, não podia faltar a tal criatura...e veio um kit completo de grosseria; cheirava a álcool, despencou na cadeira feito um pacote, tirou os sapatos exalando gorgonzola, escancarou as pernas invadindo meu espaço. Fuzilei-o com um olhar que dizia tudo que precisava ouvir, baixei decididamente o braço separador das poltronas, fiz uma barreira com a bolsa que continha algumas coisinhas pontiagudas, enfiei os fones nos ouvidos, concentrei-me na paisagem voando pela janela e na música que não conseguia abafar o ronco da criatura que caiu em coma alcoólico e quatro horas depois desembarcou deixando-me em paz outra vez. Apesar disso, da precariedade das estradas e dos terminais rodoviários, por toda a beleza que conheci, voltaria ainda que de pau-de-arara. Meu vôo solo, acabou não sendo tão solo assim, pois como diz Dominguinhos, “amigos a gente encontra, o mundo não é só aqui...” No primeiro passeio estava com duas paulistas e onze alemães; no começo da manhã todo mundo isolado, cada um no seu canto...no fim da tarde eu já trocava informações com um casal alemão que mora no Rio Grande do Sul e despedi-me das paulistas com beijinhos e troca de e-mail; o taxista que deveria apenas me levar e buscar , tornou-se meu “guiamigo” nos dias seguintes. Decididamente, não estamos sós; para atrair gente basta descruzar os braços, olhar em volta e abrir ou entreabrir um sorriso, ainda que do tipo “Monalisa”, como dizem ser o meu. Já para atrair borboletas aprendi que é só fazer um “suco” de banana com água e açúcar e derramar no local onde se deseja tê-las; vou testar. E assim foi minha deliciosa aventura: acordar com uma orquestra de aves, ter a companhia de sanhaço azul no café da manhã, conviver com gente simples que desconhece o significado de muitas palavras, mas sabe perfeitamente o que é integridade e honestidade; gente que convive com bichos do mato como se fossem domésticos, respeitando e protegendo-os, gente que conhece a riqueza das matas pantaneiras que guardam verdadeiras farmácias: há plantas que servem de colírio, de antibiótico, de analgésico, de alimento; enfim num lugar onde não há médico, a mata resolve tudo.
É isso. Considero-me aprovada no teste: as asas, o GPS e o ímã pessoal funcionando direitinho. Aguardem-me cidades históricas de Minas, floresta amazônica, Fernando de Noronha, Campos do Jordão, Serras Gaúchas, Foz do Iguaçu, Machu Picchu, não necessariamente nessa ordem.
É possível sim estar feliz, sozinho; pelo menos, sozinha é.
À minha meia dúzia de visitantes, eis o meu novo álbum de fotos:
À minha meia dúzia de visitantes, eis o meu novo álbum de fotos:
sexta-feira, março 16, 2007
Desamor
DESAMOR
Essa foto, que batizei de “Desamor”, rendeu-me um prêmio em um concurso de fotografia realizado em 2005, por um programa de saúde do Órgão em que trabalho. O tema era “Dependência: caminhos incertos”. Sei que a classificação não se deveu à qualidade da foto, nem à beleza (ou ausência de beleza), mas à idéia; foram abordados vários tipos de dependência, mas essa que costumamos apelidar de “dependência amorosa”, se não me engano, só eu lembrei. Estou falando da foto, porque foi ela que me veio à mente quando soube da tragédia que vitimou uma colega de trabalho que há mais de uma semana é triste manchete de jornais e tema de discussão diária. Dizemos que é um absurdo uma mulher bem informada, independente, chegar ao ponto de se matar por amor; sei que estou sendo repetitiva, mas amor não mata, não escraviza; para que se ame alguém, antes é preciso amar-se. Quem já não se respeita, não exige respeito, põe a própria vida nas mãos de outro, perdeu o amor próprio e portanto não pode amar. Apenas necessita tanto desse outro que se deixa morder pelo vampiro, que vê amor num pacto de morte, se é que houve isso. Há quem não acredite na hipótese de suicídio, visto que ela teria fortes convicções religiosas; mas penso eu, que direta ou indiretamente, foi suicídio sim...e vinha ocorrendo lentamente, desde que perdida a capacidade de se defender do ataque do pior ladrão que pode haver; o ladrão que aproveita a carência, a boa fé de alguém que comete o grande pecado de sonhar, de querer ser amada, e rouba-lhe a identidade, a alma. E então já não havia convicção nenhuma, apenas um deixar-se arrastar ao precipício. Para mim, Cida não morreu por amor. Matou-se com uma overdose de DESAMOR.
quinta-feira, março 08, 2007
Dia Internacional do Homem
Dia Internacional do homem
Que é bom receber flores, abraços, bombons, mensagens dos amigos comemorando o “Nosso Dia”, não dá pra negar; mas cá pra nós, tem coisa mais machista que “um”dia pra reconhecer o valor da mulher? Quer prova maior de que mulher ainda é considerada minoria? Ao que parece só minorias têm direito a datas comemorativas. Dia do Índio, Dia da Consciência Negra, Dia Internacional da Mulher...Qual é mesmo o dia do Macho Branco?
Mas pra quem não tinha direito a votar, a pensar, a trabalhar fora da cozinha, a participar das conversas e das refeições dos homens, até que evoluímos muito.
Tenho raiva e pena quando penso em mulheres como minha avó;.trabalhavam na roça pra ajudar os maridos, lavavam roupa no rio, açude ou cacimba, cozinhavam em fogão a lenha, torravam e pilavam café e ainda engomavam os ternos brancos dos senhores maridos que iam passar as noites com as quengas no cabaré, enquanto as esposas ficavam em casa cuidando de uma penca de filhos, feitos quando os maridos resolviam “usá-las” na cama e servir de boa vontade, ignorando a traição, era obrigação de mulher. Que mais elas podiam querer? Eles as sustentavam.
Hoje, apesar de termos de conviver com piadinhas idiotas que nos responsabilizam por todas as barbeiragens do trânsito, que nos taxam de assexuadas, se não damos muita bola pra homem, de galinha se damos demais (bola pra homem); se somos magrinhas, não “servimos pra uso”(ainda bem, quem serve pra uso é boneca inflável) ou quem gosta de osso é cachorro; se somos gordinhas, quem gosta de muita carne é açougueiro; se somos vaidosas, peruas; se não, relaxadas, não nos cuidamos; por aí vai. Apesar disso tudo e das que ainda se deixam escravizar pelos caprichos masculinos é bom ser mulher e saber que muitos homens consideram a mulher algo mais que um ser de cabelos longos e idéias curtas , ou um bicho com duas protuberâncias superiores na frente e duas inferiores atrás e que se alimenta de cartão de crédito masculino. É bom lembrar que temos o dom de aninhar vida no ventre, nos seios, nos braços, no colo. Vestidas de seda ou de chita, de salto ou de pé no chão, de mãos macias ou calejadas, plantando a semente ou amassando o pão, lavando a roupa ou desfilando moda, fazendo leis ou curando a dor, desatando nós ou estancando sangue; garotas da capa, de rua ou de programa, senhoras beatas, executivas, meretrizes ou meritíssimas; filhas, mães, sogras, avós, amigas, amantes, esposas, madrastas, madrinhas, todas somos belas na importância de nossa missão: Suavizar o mundo. Se falhamos, não é pela nossa condição feminina, é pela condição humana de imperfeição. Nunca seremos iguais ao homem, nem queiramos ser! Não queiramos ser superiores, mas também não deixemos que nos inferiorizem .Fomos feitos diferentes para um completar o outro. Que tal lembrarmos sempre, homens e mulheres, que somos todos feitos de um homem + uma mulher? Então comemoremos todos os dias, o Dia Internacional do Homem ser humano.
Que é bom receber flores, abraços, bombons, mensagens dos amigos comemorando o “Nosso Dia”, não dá pra negar; mas cá pra nós, tem coisa mais machista que “um”dia pra reconhecer o valor da mulher? Quer prova maior de que mulher ainda é considerada minoria? Ao que parece só minorias têm direito a datas comemorativas. Dia do Índio, Dia da Consciência Negra, Dia Internacional da Mulher...Qual é mesmo o dia do Macho Branco?
Mas pra quem não tinha direito a votar, a pensar, a trabalhar fora da cozinha, a participar das conversas e das refeições dos homens, até que evoluímos muito.
Tenho raiva e pena quando penso em mulheres como minha avó;.trabalhavam na roça pra ajudar os maridos, lavavam roupa no rio, açude ou cacimba, cozinhavam em fogão a lenha, torravam e pilavam café e ainda engomavam os ternos brancos dos senhores maridos que iam passar as noites com as quengas no cabaré, enquanto as esposas ficavam em casa cuidando de uma penca de filhos, feitos quando os maridos resolviam “usá-las” na cama e servir de boa vontade, ignorando a traição, era obrigação de mulher. Que mais elas podiam querer? Eles as sustentavam.
Hoje, apesar de termos de conviver com piadinhas idiotas que nos responsabilizam por todas as barbeiragens do trânsito, que nos taxam de assexuadas, se não damos muita bola pra homem, de galinha se damos demais (bola pra homem); se somos magrinhas, não “servimos pra uso”(ainda bem, quem serve pra uso é boneca inflável) ou quem gosta de osso é cachorro; se somos gordinhas, quem gosta de muita carne é açougueiro; se somos vaidosas, peruas; se não, relaxadas, não nos cuidamos; por aí vai. Apesar disso tudo e das que ainda se deixam escravizar pelos caprichos masculinos é bom ser mulher e saber que muitos homens consideram a mulher algo mais que um ser de cabelos longos e idéias curtas , ou um bicho com duas protuberâncias superiores na frente e duas inferiores atrás e que se alimenta de cartão de crédito masculino. É bom lembrar que temos o dom de aninhar vida no ventre, nos seios, nos braços, no colo. Vestidas de seda ou de chita, de salto ou de pé no chão, de mãos macias ou calejadas, plantando a semente ou amassando o pão, lavando a roupa ou desfilando moda, fazendo leis ou curando a dor, desatando nós ou estancando sangue; garotas da capa, de rua ou de programa, senhoras beatas, executivas, meretrizes ou meritíssimas; filhas, mães, sogras, avós, amigas, amantes, esposas, madrastas, madrinhas, todas somos belas na importância de nossa missão: Suavizar o mundo. Se falhamos, não é pela nossa condição feminina, é pela condição humana de imperfeição. Nunca seremos iguais ao homem, nem queiramos ser! Não queiramos ser superiores, mas também não deixemos que nos inferiorizem .Fomos feitos diferentes para um completar o outro. Que tal lembrarmos sempre, homens e mulheres, que somos todos feitos de um homem + uma mulher? Então comemoremos todos os dias, o Dia Internacional do Homem ser humano.
(A foto é de uma escultura exposta no Museu de Arte de Brasília em fevereiro de 2006. Pequei em não ter registrado o nome do autor. perdão!)
terça-feira, março 06, 2007
Blogs e caderninhos
Benditos blogs! Tenho descoberto tesouros!
Desde que me entendo por gente tenho a necessidade de escrevinhar...só há pouco soube que o que muitas vezes fiz é uma valiosa terapia: escrever, escrever sempre...se no final achar que o monstro ta muito cabeludo, rasgar...hoje, deletar. Tenho um caderninho , azul só pra variar, que apelidei o cofre da minha alma. Mantive muito bem escondido e nunca, nunca mesmo havia mostrado a alguém...até que um dia, não muito distante, conhecei alguém que acreditei ser minha outra asa, a metade da laranja, o amor terminal, aquele que não acaba mesmo quando um dos dois velhinhos parte pro outro lado, porque logo o outro vai e lá se reencontram...pois é, certa vez, num gesto patético, como são patéticos todos os gestos apaixonados,(isso não é um lamento, ainda espero recuperar a capacidade de ficar patética, é muito bom!) entreguei ao meu amado, meu caderninho azul dizendo: estou te entregando a minha alma. Depois soube que alma e sentimentos valiam menos que lixo; mas muita coisa boa aprendi com ele; por exemplo: devia mostrar “minha alma” a mais pessoas. Vi que tinha razão; mostrar não dói e ás vezes alivia a dor; minha ou a de quem lê. Digo isso, porque ontem mesmo ouvi de uma colega, palavras que me fizeram sentir um pouquinho útil: “ Vilma suas últimas abobrinhas, levantaram meu astral. Obrigada!” Obrigada, digo eu, pois é isso que importa. Não faço a mínima questão de saber quantos viram, quantos comentários recebi. Importa e muito, quando alguém que realmente vale a pena diz: você me fez rir, você me fez sonhar, você me fez chorar. Bendito seja então esse belo podre mundo virtual que nos oferece, como tudo na vida, o lado bom e o ruim. Meu caderninho continua ativo, bem guardadinho e guardando as coisinhas impublicáveis; mas vim aqui hoje pra falar da facilidade que os blogs nos oferecem para encontrar caminhos das
pedras (preciosas ou de atirar). Das preciosas, descobri uma amostra no “Tantas Palavras” do Correio Braziliense, cantinho de que sou fã confessa: Aí vai:
OUTRA RECEITA
Armando Freitas Filho
Da linguagem, o que flutua
Ao contrário do feijão à João
É o que se quer aqui, escrevível:
O conserto das palavras, não só
O resultado final da oficina
Mas o ruído discreto e breve
o rumo de rosca, a relojoaria
do dia e do sentido se fazendo
sem hora para acabar, interminável
sem acalmar a mesa, sem o clic
final, onde se admite tudo –
o eco, o feno, a palha, o leve –
até para efeito de contrate
para fazer do peso - pesadelo.
E em vez de pedra quebra-dente
Para manter a atenção de quem lê
Como isca, como risco, a ameaça
Do que está no ar, iminente.
Segundo o “Correio” a fonte é: http//asescolhasafectivas.blogspot.com/2006/08/armando-freitas-filho-foto-j.html
Desde que me entendo por gente tenho a necessidade de escrevinhar...só há pouco soube que o que muitas vezes fiz é uma valiosa terapia: escrever, escrever sempre...se no final achar que o monstro ta muito cabeludo, rasgar...hoje, deletar. Tenho um caderninho , azul só pra variar, que apelidei o cofre da minha alma. Mantive muito bem escondido e nunca, nunca mesmo havia mostrado a alguém...até que um dia, não muito distante, conhecei alguém que acreditei ser minha outra asa, a metade da laranja, o amor terminal, aquele que não acaba mesmo quando um dos dois velhinhos parte pro outro lado, porque logo o outro vai e lá se reencontram...pois é, certa vez, num gesto patético, como são patéticos todos os gestos apaixonados,(isso não é um lamento, ainda espero recuperar a capacidade de ficar patética, é muito bom!) entreguei ao meu amado, meu caderninho azul dizendo: estou te entregando a minha alma. Depois soube que alma e sentimentos valiam menos que lixo; mas muita coisa boa aprendi com ele; por exemplo: devia mostrar “minha alma” a mais pessoas. Vi que tinha razão; mostrar não dói e ás vezes alivia a dor; minha ou a de quem lê. Digo isso, porque ontem mesmo ouvi de uma colega, palavras que me fizeram sentir um pouquinho útil: “ Vilma suas últimas abobrinhas, levantaram meu astral. Obrigada!” Obrigada, digo eu, pois é isso que importa. Não faço a mínima questão de saber quantos viram, quantos comentários recebi. Importa e muito, quando alguém que realmente vale a pena diz: você me fez rir, você me fez sonhar, você me fez chorar. Bendito seja então esse belo podre mundo virtual que nos oferece, como tudo na vida, o lado bom e o ruim. Meu caderninho continua ativo, bem guardadinho e guardando as coisinhas impublicáveis; mas vim aqui hoje pra falar da facilidade que os blogs nos oferecem para encontrar caminhos das
pedras (preciosas ou de atirar). Das preciosas, descobri uma amostra no “Tantas Palavras” do Correio Braziliense, cantinho de que sou fã confessa: Aí vai:
OUTRA RECEITA
Armando Freitas Filho
Da linguagem, o que flutua
Ao contrário do feijão à João
É o que se quer aqui, escrevível:
O conserto das palavras, não só
O resultado final da oficina
Mas o ruído discreto e breve
o rumo de rosca, a relojoaria
do dia e do sentido se fazendo
sem hora para acabar, interminável
sem acalmar a mesa, sem o clic
final, onde se admite tudo –
o eco, o feno, a palha, o leve –
até para efeito de contrate
para fazer do peso - pesadelo.
E em vez de pedra quebra-dente
Para manter a atenção de quem lê
Como isca, como risco, a ameaça
Do que está no ar, iminente.
Segundo o “Correio” a fonte é: http//asescolhasafectivas.blogspot.com/2006/08/armando-freitas-filho-foto-j.html
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