DESAMOR
Essa foto, que batizei de “Desamor”, rendeu-me um prêmio em um concurso de fotografia realizado em 2005, por um programa de saúde do Órgão em que trabalho. O tema era “Dependência: caminhos incertos”. Sei que a classificação não se deveu à qualidade da foto, nem à beleza (ou ausência de beleza), mas à idéia; foram abordados vários tipos de dependência, mas essa que costumamos apelidar de “dependência amorosa”, se não me engano, só eu lembrei. Estou falando da foto, porque foi ela que me veio à mente quando soube da tragédia que vitimou uma colega de trabalho que há mais de uma semana é triste manchete de jornais e tema de discussão diária. Dizemos que é um absurdo uma mulher bem informada, independente, chegar ao ponto de se matar por amor; sei que estou sendo repetitiva, mas amor não mata, não escraviza; para que se ame alguém, antes é preciso amar-se. Quem já não se respeita, não exige respeito, põe a própria vida nas mãos de outro, perdeu o amor próprio e portanto não pode amar. Apenas necessita tanto desse outro que se deixa morder pelo vampiro, que vê amor num pacto de morte, se é que houve isso. Há quem não acredite na hipótese de suicídio, visto que ela teria fortes convicções religiosas; mas penso eu, que direta ou indiretamente, foi suicídio sim...e vinha ocorrendo lentamente, desde que perdida a capacidade de se defender do ataque do pior ladrão que pode haver; o ladrão que aproveita a carência, a boa fé de alguém que comete o grande pecado de sonhar, de querer ser amada, e rouba-lhe a identidade, a alma. E então já não havia convicção nenhuma, apenas um deixar-se arrastar ao precipício. Para mim, Cida não morreu por amor. Matou-se com uma overdose de DESAMOR.
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