terça-feira, maio 29, 2007

Cores daqui, cores dalém


A tentativa de aprisionar formas e cores, nos acompanha desde as cavernas. A vontade de mostrar também. Fotografia pra mim é isso.

Ando por aí, colhendo bons momentos e coisas que atraem minhas lentes.

Aqui estão alguns de meus olhares, minhas caras, minhas cores, minhas flores, borboletas e outros seres, escolhidos com muito carinho.

A porta está sempre aberta.

Seja bem-vindo!


Cores Dalí


Porque nem todo poema é azul. Porque nem só de agressões vivem as cicatrizes. Porque para sentir outra vez o sabor do mel, é preciso derramar a última gota de fel. Porque a diferença entre mel e fel, é de apenas uma letra, um ponto na língua, algumas palavras.



Cores Dali

Em letras gigantes,
Cores vibrantes
A tabuleta diz que é um lar
E que se é feliz ali.

Há uma fresta.
Pela porta entreaberta
Uma visão de Dali, salva a dor,
Findo o amor.

Migalhas sobre a mesa
Migalhas sob a mesa
Pratos sobejados
Copos marcados
Cama desfeita
Marcas de corpos
Rastros
Fio de cabelo
Fio de navalha
Panos rasgados
Planos cortados

A boca do lobo
Abate o cordeiro
Que sangra e se debate.

Nas migalhas sob a mesa
Águia cisca e cacareja
Bica vorazmente
A fruta que, colhida verde,
Embolora, perde a semente.

A cabeça pende,
Oscila
Entre o que sente a pele
E o que a alma sente.

Alma encolhida,
amordaçada
Sente escondia
o que a pele cala.

A pele engolida
Por encarnada touca oca,
rósea, desbota esbranquiçada.
Sal congelado,
Insipidez.
Ponteiro atrasado,
Insipiência ou insensatez.

Sorriso torto,
riso morto.
olhar sem brilho,
reflete o frio
aço do outro.

Há uma fresta,
Porta entreaberta.
Lar, Doce lar!

segunda-feira, maio 21, 2007

Pra refletir


As flores não são perenes, mas cultivadas as sementes e preservadas as raízes, perenes serão as floradas.

Portas para a luz


A biblioteca do órgão em que trabalho, promoveu um concurso de redação com o tema: "A Importância da Biblioteca para Divulgação do Conhecimento". Os três primeiros colocados receberiam como prêmios, livros jurídicos. Meu filho viu antes que eu visse e disse brincando: Vai lá mãe, ganhar pra mim! Fui. Ganhei o segundo lugar, a segunda pilha de livros aí da foto. Estou preparando para a minha meia dúzia de visitantes, um álbum com fotos de bons momentos, incluindo a cerimônia de entrega dos prêmios. Quando ficar pronto, aviso. Se divulgarem as redações, e me autorizarem os autores, pretendo mostrar aqui, pelo menos a da primeira e a do terceiro colocados. Por enquanto, vai a minha:



Portas para a luz



Tive infância e adolescência bem supridas de leitura. Em casa, eram raros os livros e muitos os cartões de bibliotecas públicas graças aos esforços de minha mãe, que queria para os filhos, futuro que nos orgulhasse do passado. Ela interpretou bem a passagem bíblica: “Ensina a criança no caminho em que deve andar e ainda quando for velho não se desviará dele”. Palavras que traduzi em: ensina à criança o caminho da biblioteca e ela jamais se “livrará” dele...estará para sempre livremente ”enlivrada”.
As atuais “Caixas de Leitura”, no meu tempo circulavam pelas escolas públicas, com o nome de “Biblioteca Ambulante”. Eram caixas em forma de pequenas casas, cheias de livros novinhos. Eram o prazer maior; melhor que qualquer guloseima, que qualquer brinquedo, era dar a “Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, partilhar as descobertas de Robinson Crusoé, viver o encanto de lendas e contos.
Tempo passando, bibliotecas sempre presentes, mudando apenas o foco de interesse. Em vez de estórias, a História com o fascínio das antigas civilizações, dos grandes descobrimentos; o encanto das artes e das ciências. Biblioteca, cantinho de estudar, em paz, para provas e concursos, conferir os resultados e vibrar com a aprovação. Biblioteca, ponto de encontro com Drummond, com Cecília, com Veríssimo e sua “Música ao Longe”. Íntimos, assim mesmo, pois na biblioteca, os “imortais” estão sempre ao alcance de qualquer mortal disposto a conhecê-los página por página.
Seja a nossa “Biblioteca Ministro Oscar Saraiva”, com seus tesouros jurídicos e recursos tecnológicos, seja aquela famosa que nasceu num açougue em Brasília, seja a Caixa de Leitura levada em lombo de jegue alegrando crianças nordestinas ou aquela outra, em São Paulo, criada por um “catador” que recolhe os livros do lixo, onde nunca deveriam estar, bibliotecas são portas para a luz, para a grandeza do conhecimento..

sábado, maio 12, 2007

Mãe


Mãe

Receberás a semente
Guardarás em teu ventre...
Darás luz, leite, amor...
Darás a vida.
Serás peito, colo, amparo...
Ensinarás o caminho
Serás porto seguro e leme.
Serás ninho.
Perdoarás setenta vezes
Vezes sete, se preciso for
Ensinarás tudo outra vez.
Teus frutos, nunca maduros
Serão sempre meninos
E tu serás apenas MÃE.

terça-feira, maio 08, 2007

Claro Lado Escuro


Claro lado escuro


Um dia, alguém que lê minhas abobrinhas, perguntou-me se escrevo “com endereço”. Às vezes. É que as tragédias e comédias humanas são feitas dos mesmos ingredientes; mudam as medidas e o tempo de cozimento. Por isso, o que às vezes parece ter um endereço determinado, tem vários ou nenhum. Mas hoje escrevo com endereçoS e dataS.
Oito de maio, um ano de cor...sinto decepcioná-lo mas não, não troquei o d pelo c, é de cor mesmo. A dor existiu intensa e rápida como a de qualquer bofetada; há um ano levei o maior, mais covarde e mais benéfico tapa na cara (da alma), de toda esta minha vida; digo desta, porque com certeza em outras fiz por merecer; e digo benéfico porque me levou a um lugar conhecido dos velhos “xamãs”: um lugar dentro, muito dentro de mim (descubra o seu!), onde a dor não alcança. Eu o imaginava sombrio, totalmente fechado. Não é. Se lá fora, vejo cores, aqui vejo cores, tons e matizes. Posso dizer que não tem portas para o passado, apenas uma ampla janela para o presente, com belíssima vista pro verde esmeralda, verde musgo, verde inglês, claro, médio e escuro, verde esperança, azul turquesa, cobalto, ultramar, azul marinho, azul carinho e quantos mais eu queira, basta misturar. É onde mostro minhas caras, minhas cores, minhas flores, minhas asas, minhas penas, minhas dores, escaras, espinhos e espinhas, até mesmo as entaladas na garganta. Mostro a cauda em leque e também os pés de pavão; as patas macias e as garras retráteis; asas blindadas em aço, dotadas de hipersensores. Portanto, não me julgue insensível se não tenho saudades do que se jogou fora há um ano, nem do que se perdeu há vinte, nas areias do mar, de um mar que cheirava a mel. Se não sinto sua dor nem sua alegria, é que elas são só suas e as minhas, só minhas. Descobri o lugar (ou o tempo?) onde o outro, (pai, mãe, filho, irmão, amigo, amante), é apenas um companheiro de viagem e onde cada momento deve ser vivido inteiro, para que depois da partida, nada reste que valha um olhar para trás. É o meu claro lado escuro. A face oculta da lua, também é lua.