terça-feira, maio 08, 2007

Claro Lado Escuro


Claro lado escuro


Um dia, alguém que lê minhas abobrinhas, perguntou-me se escrevo “com endereço”. Às vezes. É que as tragédias e comédias humanas são feitas dos mesmos ingredientes; mudam as medidas e o tempo de cozimento. Por isso, o que às vezes parece ter um endereço determinado, tem vários ou nenhum. Mas hoje escrevo com endereçoS e dataS.
Oito de maio, um ano de cor...sinto decepcioná-lo mas não, não troquei o d pelo c, é de cor mesmo. A dor existiu intensa e rápida como a de qualquer bofetada; há um ano levei o maior, mais covarde e mais benéfico tapa na cara (da alma), de toda esta minha vida; digo desta, porque com certeza em outras fiz por merecer; e digo benéfico porque me levou a um lugar conhecido dos velhos “xamãs”: um lugar dentro, muito dentro de mim (descubra o seu!), onde a dor não alcança. Eu o imaginava sombrio, totalmente fechado. Não é. Se lá fora, vejo cores, aqui vejo cores, tons e matizes. Posso dizer que não tem portas para o passado, apenas uma ampla janela para o presente, com belíssima vista pro verde esmeralda, verde musgo, verde inglês, claro, médio e escuro, verde esperança, azul turquesa, cobalto, ultramar, azul marinho, azul carinho e quantos mais eu queira, basta misturar. É onde mostro minhas caras, minhas cores, minhas flores, minhas asas, minhas penas, minhas dores, escaras, espinhos e espinhas, até mesmo as entaladas na garganta. Mostro a cauda em leque e também os pés de pavão; as patas macias e as garras retráteis; asas blindadas em aço, dotadas de hipersensores. Portanto, não me julgue insensível se não tenho saudades do que se jogou fora há um ano, nem do que se perdeu há vinte, nas areias do mar, de um mar que cheirava a mel. Se não sinto sua dor nem sua alegria, é que elas são só suas e as minhas, só minhas. Descobri o lugar (ou o tempo?) onde o outro, (pai, mãe, filho, irmão, amigo, amante), é apenas um companheiro de viagem e onde cada momento deve ser vivido inteiro, para que depois da partida, nada reste que valha um olhar para trás. É o meu claro lado escuro. A face oculta da lua, também é lua.

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