Porque nem todo poema é azul. Porque nem só de agressões vivem as cicatrizes. Porque para sentir outra vez o sabor do mel, é preciso derramar a última gota de fel. Porque a diferença entre mel e fel, é de apenas uma letra, um ponto na língua, algumas palavras.
Cores Dali
Em letras gigantes,
Cores vibrantes
A tabuleta diz que é um lar
E que se é feliz ali.
Há uma fresta.
Pela porta entreaberta
Uma visão de Dali, salva a dor,
Findo o amor.
Migalhas sobre a mesa
Migalhas sob a mesa
Pratos sobejados
Copos marcados
Cama desfeita
Marcas de corpos
Rastros
Fio de cabelo
Fio de navalha
Panos rasgados
Planos cortados
A boca do lobo
Abate o cordeiro
Que sangra e se debate.
Nas migalhas sob a mesa
Águia cisca e cacareja
Bica vorazmente
A fruta que, colhida verde,
Embolora, perde a semente.
A cabeça pende,
Oscila
Entre o que sente a pele
E o que a alma sente.
Alma encolhida,
amordaçada
Sente escondia
o que a pele cala.
A pele engolida
Por encarnada touca oca,
rósea, desbota esbranquiçada.
Sal congelado,
Insipidez.
Ponteiro atrasado,
Insipiência ou insensatez.
Sorriso torto,
riso morto.
olhar sem brilho,
reflete o frio
aço do outro.
Há uma fresta,
Porta entreaberta.
Lar, Doce lar!
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