terça-feira, junho 26, 2007

Um Lugar Diferente


Um lugar diferente


“Ao entrar, desarme sua mente” – Diz o Aviso. Acho que é preciso mesmo. Não desarmei a minha e fiquei oscilando entre admirar e reprovar. É um recanto de natureza belíssima, bom para acampar, para pescar e fotografar. Vale conhecer. É a “Estância Ecológica do Ligeirinho”...Ligeirinho é Aluísio, um dos integrantes do motoclube “kamikazes”; um homem de barbas e cabelos muito longos, de roupas exóticas que recebe os visitantes com muita simpatia e com mesuras que lembram um mago chinês. A casa dele, aberta a quem quiser entrar, tem quartos sem portas e é uma espécie de museu onde se encontram, amontoados, móveis velhos, álbuns de fotografia da família, livros, discos antigos, arte riquíssima e muita coisa um tanto macabra ( bonecos decepados, esculturas de cabeças sangrentas, coisinhas assim). Uma bela arquitetura “habitada” por um conceito de vida que assusta mentes armadas como a minha, presas a conceitos de organização, limpeza, segurança . Um lugar onde se pode pegar o sol com a mão, ver espetáculos deslumbrantes como um amanhecer totalmente branco de neblina e um pôr-de-sol dourado, conversar com araras, ver pavão no telhado, dividir o caminho com bezerros e cavalos, montar búfalo e avestruz....e ficar matutando os mistérios que envolvem a mente.
Das quase 400 fotos colhidas, divido algumas com você.

sexta-feira, junho 22, 2007

O Amor é Lindo!!!


O Amor é Lindo!


Assim caminha a humanidade, assim caminhamos nós moradores de Brasília orgulhosos de nossa marca registrada: Individualismo. Não conhecemos o vizinho, nem o colega de seção, nem o companheiro de transporte. Cá estamos nós, um “comboio” de indivíduos, no mais profundo significado da palavra. Individualizados, individualistas, cada um com seu umbigo, cada um com seu ouvido, cada um com sua janela. Através da minha, atravesso a paisagem quase sem notar a “barriguda” que exibe uma flor solitária. Ah! Como são belas as flores solitárias! uma só flor em uma árvore nua me enche mais os olhos que um ipê todo florido. Mais um sintoma de individualismo? Talvez. Olho por um instante à minha volta. Caras amarrotadas, sonolentas, entediadas. Algumas ansiosas de olho no relógio. A meu lado uma criança mal dormida, agarra-se à mochila de letras adormecidas. Que será que vai aprender hoje? Vez em quando olha para trás, talvez procure a presença da mãe. Podia ter-me oferecido para trocar de lugar com ela, mas tava muito ocupada com minha janela, e daqui a pouco acaba a viagem para mim. Dou mais uma olhada. Quase todos de ouvidos tapados, cada um com sua música. Brinco de adivinhar o que estão ouvindo. Bobagem! De ouvidos abertos, mas voltados à minha música interior, só ouço o que quero, o que associo a gestos, a roupas, a comportamento. Levanto. A mãe vem correndo pra sua cria que não precisa mais olhar pra trás.
Outro ambiente. Outro núcleo de indivíduos. Espera educada, civilizada. A maioria está só. Os acompanhados falam baixinho, quase ao pé do ouvido para não incomodar. Ótimo. Um casal prende-me a atenção. A mulher aparenta quarenta e muitos. O rapaz, menos de trinta. São parecidos. Têm traços árabes. Ela, um olhar altivo, mas triste apesar do forte delineado a lápis preto. Empurra a cadeira de rodas com jeito de quem ainda não se acostumou àquela missão. Ele com dificuldade de movimentos, gira a cabeça procurando algo pela sala. Um olhar que parece procurar outros olhares para deles fugir. Transmite uma sensação de “quer saber por que estou aqui? ” Ou talvez: “Não me olhe com piedade”. Fujo por um instante, mas volto a eles, alimentando um turbilhão de perguntas. Quem seria ele antes? O que o teria levado àquilo. Velocidade irresponsável no trânsito? Acidente causado por ele mesmo ou por outro? Um mergulho arriscado? Um tombo? algum esporte radical? Uma doença? Esqueço minhas perguntas quando vejo a mulher sentar-se ao lado dele. Estende a mão muito branca de unhas bem pintadas e espera pacientemente. Ele lentamente põe a mão sobre a dela. A mão dela recebe a dele com muito carinho e o olhar que mostra a ele diz, sem uma palavra: Eu te amo, estou com você. É um olhar marejado e um amor que emociona. Não dá pra saber se de mãe pra filho, de irmã pra irmão, de mulher pra homem. É apenas AMOR puro, amor em essência.
Ainda pensando em quanta coisa vivi nessa manhã entro num shopping. À minha frente um casal, com certeza passado dos setenta anos, de mãos dadas. Ela, um passinho adiantada parece a dona da situação naquele momento. Olho bem pra ele. Usa um moleton confortável com cara de pijama, um chapeuzinho que deixa à mostra a ausência de cabelos. Vira-se um pouquinho, vejo uma máscara hospitalar que lhe cobre o rosto quase todo. Sinais de quimioterapia? Fixo-me nas mãos entrelaçadas. Lá também está escrito: Eu te amo. Sigo pela torrente de indivíduos, perguntando-me quantas juras de amor eterno “na saúde e na doença”, sobrevivem. Pelo menos por hoje, meu gelo foi quebrado. Vi por duas vezes o amor e ele continua lindo. Tão lindo que pra ilustrar isso aqui, não quero fotos de casais aos beijos teatrais contra um pôr-de-sol. Quero uma flor, a mais bela rima para o amor.

sexta-feira, junho 01, 2007

Lu-a-zu-ver-de-vi-da






Ontem, entre uma exigência e outra, das “providências cabíveis”, do cinzento da minha gaiolinha de concreto, ouvi palavras mágicas: lua azul. Quis saber mais. Ando meio desligada dos noticiários, cansada dos prende-e-solta, da guerrinha de vaidade dos poderes; mas acabei vendo notícias, pesquisando na rede e descobri que pouquinho depois das 22 horas a lua azul seria visível e que lua azul ocorre quando há duas luas cheias em um mês. Para os místicos, o poder da “deusa” é muito maior. Para os poetas, um prato cheio. Para mim, uma revoada de idéias azulzinhas. Queria escrever, fotografar, pintar luas azuis. Procurei o cantinho mais alto do quintal, montei o tripé, vesti um agasalho e fique de plantão. Não vi a lua azul. Vi a deusa dos magos, dos loucos, dos amantes e dos poetas, vestida de manto azul. Vi também uma bola verde, que desconfiei ser um defeito da lente. Não era. Entre mais de cem fotos, a bola aparece muitas vezes e em posições diferentes. Fui dormir com a bola verde me martelando. Hoje corri para ver o jornal, esperando ver a lua azul bem na capa. Talvez alguém falasse sobre a bola verde. Nem na capa, nem em lugar algum. Parece que ninguém deu muita bola às bolas de luz. Mas havia uma história azul de verde vida. O caderno “Cidades”, do Correio Braziliense, sempre traz Histórias, assim mesmo com agá maiúsculo, contadas por Marcelo Abreu. Nada sei sobre ele, sei apenas que conta Histórias como ninguém. Histórias de amores possíveis, verdadeiros, que duram a vida inteira, que vencem Down, Alzheimer, depressão, falta de dinheiro. Histórias de gente bonita sem maquiagem e que sonha apenas morar à beira de um rio bonito com um cachorro; gente que não esconde rugas, cicatrizes, aleijões; sim, aleijões, pois como diz minha amiga Márcia, todo mundo tem. Histórias de gente que vence a morte, que junta cacos de vida e os transforma em belos mosaicos. A História de hoje é sobre André, que depois de vencer batalhas contra o diabetes, quer deixar suas marcas na vida. Plantou uma árvore. Disseram-lhe que a árvore atrairia lagartas. Ele disse que lagartas trazem borboletas e que borboleta é sinal de vida. Disse também que falta ter um filho e escrever um livro. Que Deus o ouça. Que tenhamos olhos e ouvidos para histórias assim e tempo para as luas azuis, vermelhas ou prateadas.