sexta-feira, junho 22, 2007

O Amor é Lindo!!!


O Amor é Lindo!


Assim caminha a humanidade, assim caminhamos nós moradores de Brasília orgulhosos de nossa marca registrada: Individualismo. Não conhecemos o vizinho, nem o colega de seção, nem o companheiro de transporte. Cá estamos nós, um “comboio” de indivíduos, no mais profundo significado da palavra. Individualizados, individualistas, cada um com seu umbigo, cada um com seu ouvido, cada um com sua janela. Através da minha, atravesso a paisagem quase sem notar a “barriguda” que exibe uma flor solitária. Ah! Como são belas as flores solitárias! uma só flor em uma árvore nua me enche mais os olhos que um ipê todo florido. Mais um sintoma de individualismo? Talvez. Olho por um instante à minha volta. Caras amarrotadas, sonolentas, entediadas. Algumas ansiosas de olho no relógio. A meu lado uma criança mal dormida, agarra-se à mochila de letras adormecidas. Que será que vai aprender hoje? Vez em quando olha para trás, talvez procure a presença da mãe. Podia ter-me oferecido para trocar de lugar com ela, mas tava muito ocupada com minha janela, e daqui a pouco acaba a viagem para mim. Dou mais uma olhada. Quase todos de ouvidos tapados, cada um com sua música. Brinco de adivinhar o que estão ouvindo. Bobagem! De ouvidos abertos, mas voltados à minha música interior, só ouço o que quero, o que associo a gestos, a roupas, a comportamento. Levanto. A mãe vem correndo pra sua cria que não precisa mais olhar pra trás.
Outro ambiente. Outro núcleo de indivíduos. Espera educada, civilizada. A maioria está só. Os acompanhados falam baixinho, quase ao pé do ouvido para não incomodar. Ótimo. Um casal prende-me a atenção. A mulher aparenta quarenta e muitos. O rapaz, menos de trinta. São parecidos. Têm traços árabes. Ela, um olhar altivo, mas triste apesar do forte delineado a lápis preto. Empurra a cadeira de rodas com jeito de quem ainda não se acostumou àquela missão. Ele com dificuldade de movimentos, gira a cabeça procurando algo pela sala. Um olhar que parece procurar outros olhares para deles fugir. Transmite uma sensação de “quer saber por que estou aqui? ” Ou talvez: “Não me olhe com piedade”. Fujo por um instante, mas volto a eles, alimentando um turbilhão de perguntas. Quem seria ele antes? O que o teria levado àquilo. Velocidade irresponsável no trânsito? Acidente causado por ele mesmo ou por outro? Um mergulho arriscado? Um tombo? algum esporte radical? Uma doença? Esqueço minhas perguntas quando vejo a mulher sentar-se ao lado dele. Estende a mão muito branca de unhas bem pintadas e espera pacientemente. Ele lentamente põe a mão sobre a dela. A mão dela recebe a dele com muito carinho e o olhar que mostra a ele diz, sem uma palavra: Eu te amo, estou com você. É um olhar marejado e um amor que emociona. Não dá pra saber se de mãe pra filho, de irmã pra irmão, de mulher pra homem. É apenas AMOR puro, amor em essência.
Ainda pensando em quanta coisa vivi nessa manhã entro num shopping. À minha frente um casal, com certeza passado dos setenta anos, de mãos dadas. Ela, um passinho adiantada parece a dona da situação naquele momento. Olho bem pra ele. Usa um moleton confortável com cara de pijama, um chapeuzinho que deixa à mostra a ausência de cabelos. Vira-se um pouquinho, vejo uma máscara hospitalar que lhe cobre o rosto quase todo. Sinais de quimioterapia? Fixo-me nas mãos entrelaçadas. Lá também está escrito: Eu te amo. Sigo pela torrente de indivíduos, perguntando-me quantas juras de amor eterno “na saúde e na doença”, sobrevivem. Pelo menos por hoje, meu gelo foi quebrado. Vi por duas vezes o amor e ele continua lindo. Tão lindo que pra ilustrar isso aqui, não quero fotos de casais aos beijos teatrais contra um pôr-de-sol. Quero uma flor, a mais bela rima para o amor.

Um comentário:

Carlos disse...

caraculis!
q lindo!