Prazer em conhecer
Expressão pouco usada em nossos dias. Hoje quando nos apresentam alguém quase sempre ficamos no “Oi! Tudo bem?”. Mas por ser pouco usada, estalou-me aos ouvidos dia desses. E dos ouvidos foi pro tutano e ficou martelando. Quando é mesmo que conhecemos alguém? Dizem os mais experientes que duas pessoas só se conhecem, depois, de vivendo debaixo do mesmo teto, juntas comerem um quilo de sal. Acho pouco ainda. Acho mais é que na verdade nunca conhecemos pessoas. Nem mesmo a pessoa que mora dentro de nós, pois quanto mais sabemos, sabemos que nada sabemos. Mas, prazer em conhecer tem significado muito mais amplo, mais profundo. Não tem preço, o prazer de descobrir, de conhecer História, histórias e estórias. Culturas antigas, folclores, pensamentos, artes. É viajando, visitando comunidades, museus, centros históricos, que temos esse prazer mais vivo. Mas também pelas portas que nos abrem os livros, a boa música e os bons filmes, é possível chegar bem perto.
Acabei de fazer uma belíssima viagem por um livro fantástico que me levou ao mundo dos “filo-sofos”, dos amantes da sabedoria. O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder é um curso de filosofia, “disfarçado” de romance, que nos faz sentir personagens do mundo do aprender, viajando ao encontro de Sócrates, Platão, Tales, Aristóteles, Freud e outras tantas cabeças pensantes. Nesse baú de preciosidades, entre o Juramento de Hipócrates, o átomo de Demócrito e tantas outras pedras raras, encantou-me esta jóia:
“Conta-se que um dia, Sócrates parou diante de uma tenda do mercado em que estavam expostas diversas mercadorias. Depois de algum tempo, ele exclamou; “Vejam quantas coisas o ateniense precisa para viver!” Naturalmente ele queria dizer com isso que ele próprio não precisava de nada daquilo.
Essa postura de Sócrates foi o ponto de partida para a filosofia cínica, fundada em Atenas por Antístenes – um discípulo de Sócrates -, por volta de 400 a.C.
Os cínicos diziam que a verdadeira felicidade não depende de fatores externos como o luxo, o poder político e a boa saúde. Para eles, a verdadeira felicidade consistia em se libertar dessas coisas casuais e efêmeras. E justamente porque a felicidade não estava nessas coisas ela podia ser alcançada por todos. E, uma vez alcançada, não podia ser perdida.
O cínico mais importante foi Diógenes, discípulo de Antístenes. Conta-se que ele vivia dentro de um barril e não possuía mais do que uma túnica, um cajado e um embornal de pão. (Desse jeito não era nada fácil roubar dele sua felicidade!) um dia, quando estava sentado ao sol junto ao seu barril, recebeu a visita de Alexandre Magno.Alexandre aproximou-se do sábio, perguntou-lhe se tinha algum desejo e disse-lhe que, caso tivesse, seu desejo seria imediatamente satisfeito. Ao que Diógenes respondeu: “Sim, desejo que te afastes da frente do meu sol”. Com isto, Diógenes mostrou que era mais rico e mais feliz que o grande conquistador que tinha tudo o que desejava.”
Quisera eu, chegar um dia, a desejar tão pouco que tivesse tudo o que desejasse.
Quisera eu, chegar um dia, a necessitar apenas da luz.
“O verdadeiro conhecimento é para o homem, como o sol que fecunda o solo”
(Nikolai Frederik Severin Grundtvig)
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