segunda-feira, julho 31, 2006
Depois da chuva
Depois da chuva
Tão inesperada quanto desejada, caiu ontem uma bela chuva. Céu todo lavadinho, deixa também lavadinha minha alma de passarinho, que em dias bonitos enverdece. E é assim que estou-me sentindo hoje: um verdadeiro passarinho verde de alma novinha em folha, em flor, em asa!
Parece chavão de livro de auto-ajuda, mas dar um profundo mergulho no EU, limpar os armários e gavetas da alma faz muito bem! É bom descobrir que o que me falta é muito pouco em relação ao que me sobra. É gratificante reconhecer que tenho muito a agradecer e muito pouco a pedir. Respirar, andar, ver, expressar tudo que se sente, é tão mágico e quase nunca me dou tempo para pensar nisso...
Dia desses, tive um pé semi-imobilizado e me envergonhei de um dia ter reclamado de ter pernas finas em vez de agradecer pela capacidade de andar, correr, pular, chutar.
Hoje diante da beleza do dia, da alegria de passarinhos no meu jardim, agradecendo pela chuva, também estou agradecendo à vida por tudo que tem-me dado. Estou grande, enorme, prenhe de luz do sol, de cheiro de terra, cheiro de flor...estou vendo tudo com olhos de aquarela, quero que tudo que me entra pelas retinas, vire foto, vire tela ou poesia, ou tudo ao mesmo tempo!
A você, desejo um dia de alma clara e aura lavada!
quinta-feira, julho 27, 2006
Origem Feminina
Origem Feminina
(Luís Fernando Veríssimo)
Existem várias lendas sobre a origem da Mulher.Uma diz que Deus pôs o primeiro homem a dormir, inaugurando assim a anestesia geral, tirou uma de suas costelas e com ela fez a primeira mulher.E que a primeira provação de Eva foi cuidar de Adão e agüentar o seu mau humor, enquanto ele convalescia da operação.Uma variante desta lenda diz que Deus, com seu prazo para a Criação estourado, fez o homem às pressas, pensando “Depois eu melhoro”, e mais tarde, com tempo, fez um homem mais bem-acabado, que chamou Mulher, que é “melhor” em aramaico.Outra lenda diz que Deus fez a mulher primeiro, e caprichou nas suas formas, e aparou aqui e tirou dali, e com o que sobrou fez o homem só para não jogar barro fora.Zeus teria arrancado a mulher de sua própria cabeça.Alguns povos nórdicos cultivam o mito da Grande Ursa Olga, origem de todas as mulheres do mundo, o que explica o fato das mulheres se enrolarem periodicamente em pêlos de animais, cedendo a um incontrolável impulso atávico, nem que seja só para experimentar, na loja, e depois quase desmaiar com o preço.Em certas tribos nômades do Meio Oriente ainda se acredita que a mulher foi, originariamente, um camelo, que na ânsia de servir seu mestre de todas as maneiras foi se transformando até adquirir sua forma atual.No Extremo Oriente existe a lenda de que as mulheres caem do céu, já de kimono.E em certas partes do Ocidente persiste a crença de que mulher se compra através dos classificados, podendo-se escolher idade, cor da pele e tipo de massagem.Todas estas lendas, claro, têm pouco a ver com a verdade científica. Hoje se sabe que o Homem é o produto de um processo evolutivo que começou com a primeira ameba a sair do mar primevo, e é o descendente direto de uma linha específica de primatas, tendo passado por várias fases até atingir o seu estágio atual e aí encontrar a Mulher, que ninguém ainda sabe de onde veio.É certamente ridículo pensar que as mulheres também descendem de macacos. A minha mãe, não!Uma das teses mais aceitáveis sobre o papel da mulher na evolução do homem é a de que o primeiro encontro entre os dois se deu no período paleolítico, quando um homo-sapiens mas não muito, chamado, possivelmente, Ugh, saiu para caçar e avistou, sentado numa pedra, penteando os cabelos, um ser que lhe provocou o seguinte pensamento, em linguagem de hoje:”Isso é que é mulher e não aquilo que tenho na caverna”.Ugh aproximou-se da mulher e, naquele seu jeitão, deu a entender que queria procriar com ela.”Agh maakgrom grom”, ou coisa parecida. A mulher olhou-o de cima a baixo e desatou a rir.É preciso lembrar que Ugh, embora fosse até bem apessoado pelos padrões da época, era pouco mais do que um animal aos olhos da mulher. Tinha a testa estreita e as mandíbulas pronunciadas e usava gordura de mamute nos cabelos.
A mulher disse alguma coisa como “Você não se enxerga, não?” e afastou-se, enojada, deixando Ugh desolado. Antes dela desaparecer por completo, Ugh ainda gritou: “Espera uns 10 mil anos pra você ver!”, e de volta à caverna exortou seus companheiros a aprimorarem o processo evolutivo.Desde então, o objetivo da evolução do homem foi o de proporcionar um par à altura para a mulher, para que, vendo o casal, ninguém dissesse que ela só saía com ele pelo dinheiro, ou para espantar assaltantes.Se não fosse por aquele encontro fortuito em alguma planície do mundo primitivo, o homem ainda seria o mesmo troglodita desleixado e sem ambição, interessado apenas em caçar e catar seus piolhos, e um fracasso social.Mas de onde veio a primeira mulher, já que podemos descartar tanto a evolução quanto as fantasias religiosas e mitológicas sobre a criação?Inclino-me para a tese da origem extraterrena. A mulher viria (isto é pura especulação, claro) de outro planeta.Venho observando-as durante anos - inclusive casei com uma, para poder estudá-las mais de perto - e julgo ter colecionado provas irrefutáveis de que elas não são deste mundo. Observei que elas não têm os mesmos instintos que nós, e volta e meia são surpreendidas em devaneio, como que captando ordens de outra galáxia, embora disfarcem e digam que só estavam pensando no jantar. Têm uma lógica completamente diferente da nossa. Ultimamente têm tentado dissimular sua peculiaridade, assumindo atitudes masculinas efazendo coisas - como dirigir grandes empresas e xingar a mãe do motorista ao lado - impensáveis há alguns anos, o que só aumenta a suspeita de que se trata de uma estratégia para camuflar nossas diferenças, que estavam começando a dar na vista.Quando comentamos o fato, nos acusam de ser machistas, presos a preconceitos e incapazes de reconhecer seus direitos, ou então roçam a nossa nuca com o nariz, dizendo coisas como “ioink, ioink” que nos deixam arrepiados e sem argumentos.Claramente combinaram isto. Estão sempre combinando maneiras novas de impedir que se descubra que são alienígenas e têm desígnios próprios para a nossa terra.É o que fazem, quando vão, todas juntas, ao banheiro, sabendo que não podemos ir atrás para ouvir.Muitas vezes, mesmo na nossa presença, falam uma linguagem incompreensível que só elas entendem, obviamente um código para transmitir instruções do Planeta Mãe.E têm seus golpes baixos. Seus truques covardes. Seus olhos laser, claros ou profundamente escuros, suas bocas.Meu Deus, algumas até sardas no nariz. Seus seios, aqueles mísseis inteligentes. Aquela curva suave da coxa, quando está chegando no quadril, e a Convenção de Genebra não vê isso!E as armas químicas - perfumes, loções, cremes. São de uma civilização superior, o que podem nossos tacapes contra os seus exércitos de encantos?Breve dominarão o mundo. Breve saberemos o que elas querem. Se depois de sair este artigo, eu for encontrado morto com sinais de ter sido carinhosamente asfixiado, como um sorriso, minha tese está certa. Se nada me acontecer, sinal de que a tese está certa, mas elas não temem mais o desmascaramento.O que elas querem, afinal?Se a mulher realmente veio ao mundo para inspirar o homem a melhorar e ser digno dela, pode ter chegado à conclusão de que falhou, que este velho guerreiro nunca tomará jeito. Continuaremos a ser mulheres com defeito, uma experiência menor num planeta inferior. O que sugere a possibilidade de que, assim como veio, a mulher está pronta a partir, desiludida conosco.E se for isso que elas conspiram nos banheiros? A retirada? Seríamos abandonados à nossa própria estupidez. Elas levariam as suas filhas e nos deixariam com caras de Ugh.Posso ver o fim da nossa espécie. Nossos melhores cientistas abandonando tudo e se dedicando a intermináveis testes com a costela, depois de desistir da mulher sintética. Tentando recriar a mágica da criação.Uma mulher, qualquer mulher, de qualquer jeito! Prometemos que desta vez não as decepcionaremos! Uma mulher! Como é que se faz uma mulher?
É Preciso
Que a nuvem envolva a pedra sem que a pedra engula a nuvem, porque como diz o poeta, é preciso...
É Preciso
(Ivo Barroso)
É preciso ser duro
como a pedra
como a pedra que parte
como a parte da pedra
que penetra a parede
e a parte
como a rede que não vaza
como o vaso que não quebra
como a pedra que fende
o paredão da casa
E é preciso ser fraco
é preciso ser ciso
e simulacro
É preciso todos os dias
vencer os deuses
pigmeus/golias
É preciso ter cara
e ter coragem
É cada vez raro
quem assim reage
É preciso ser duro
como o murro
como o muro
e é preciso ser doce
como se anteparo
de vidro
o muro fosse.
É cada vez mais raro
ser duro e doce
cada vez mais torpe
ser apenas duro
cada vez mais nulo
ser apenas doce
cada vez mais raro
cada vez mais duro
ser o muro e a nuvem
como se um só fossem.
como a pedra
como a pedra que parte
como a parte da pedra
que penetra a parede
e a parte
como a rede que não vaza
como o vaso que não quebra
como a pedra que fende
o paredão da casa
E é preciso ser fraco
é preciso ser ciso
e simulacro
É preciso todos os dias
vencer os deuses
pigmeus/golias
É preciso ter cara
e ter coragem
É cada vez raro
quem assim reage
É preciso ser duro
como o murro
como o muro
e é preciso ser doce
como se anteparo
de vidro
o muro fosse.
É cada vez mais raro
ser duro e doce
cada vez mais torpe
ser apenas duro
cada vez mais nulo
ser apenas doce
cada vez mais raro
cada vez mais duro
ser o muro e a nuvem
como se um só fossem.
quarta-feira, julho 26, 2006
Olhos
OLHOS
(Vilma Santos)
Olho - janela da alma (porta também)...
olho da porta, olho mágico;
olho de vidro pra perna-de-pau,
olho feio pra cara-de-mau;
olho de gato, brilha no escuro;
olho d´agua, de água viva, água da vida;
olho apagado de peixe morto;
olho de fogo, de anjo torto;
olho de coco para crescer!;
olho-de-boi, selo que foi;
olho de porco é olho
de quem não olha no olho...
olho no olho, quero ver o que você diz!
dizer o que você faz!
olho não mente! Jamais!!!
olho claro, brancura;
olho negro, noite escura, negro mistério;
olho azul, belle de jour;
olho verde de ver de perto,de longe;
OLHO TEU de ver por dentro...o que esconde???
OLHO MEU...olho de "briba", de pitomba lambida...
olho de borboleta..."zóio";
olho vermelho, noite em claro;
olho inchado, noite "inclara"
olho gordo, devora felicidade, olho comprido de vontade;
olho desviado, faltou verdade;
olho de "furunco", de furacão;
olho molhado, extasiado;
olho aberto, outro fechado;
um no futuro, um no passado.
(Vilma Santos)
Olho - janela da alma (porta também)...
olho da porta, olho mágico;
olho de vidro pra perna-de-pau,
olho feio pra cara-de-mau;
olho de gato, brilha no escuro;
olho d´agua, de água viva, água da vida;
olho apagado de peixe morto;
olho de fogo, de anjo torto;
olho de coco para crescer!;
olho-de-boi, selo que foi;
olho de porco é olho
de quem não olha no olho...
olho no olho, quero ver o que você diz!
dizer o que você faz!
olho não mente! Jamais!!!
olho claro, brancura;
olho negro, noite escura, negro mistério;
olho azul, belle de jour;
olho verde de ver de perto,de longe;
OLHO TEU de ver por dentro...o que esconde???
OLHO MEU...olho de "briba", de pitomba lambida...
olho de borboleta..."zóio";
olho vermelho, noite em claro;
olho inchado, noite "inclara"
olho gordo, devora felicidade, olho comprido de vontade;
olho desviado, faltou verdade;
olho de "furunco", de furacão;
olho molhado, extasiado;
olho aberto, outro fechado;
um no futuro, um no passado.
Sabiá
Sabiá
Antonio Carlos Jobim / Chico Buarque
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar uma sabiá,
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra de uma palmeira que já não há
Colher a flor que já não dá
E algum amor talvez possa espantar
As noites que eu não queria
E anunciar o dia
Vou voltar Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos de me entregar
Como fiz enganos de me encontrar
Como fiz estradas de me perder
Fiz de tudo e nada de te esquecer.
terça-feira, julho 25, 2006
Não Mais
Não mais ansiedade,
Não mais afã, medo do amanhã!
Fechei olhos e ouvidos a azedas palavras
Amargos humores, maldosos rumores...
Fechei a porta, tranquei o porto,
Abri um fosso
Entre a treva e o cristal...
Não mais casulo, covardia, taquicardia...
Não mais fragilidade, solidão. escuridão...
Que venha a sombra , que brilhe a luz
Quero à direita, sol dourado,
À esquerda, branca lua.
Quero o calor do meu amado
O sabor da pele nua.
Sob os pés quero as estrelas,
E no céu, rosas vermelhas...
Quero ser a boba da corte,
Sangrar sem ter corte,
Voar para o norte,
amar até que venha a morte...
Quero paz ,quero poesia...
Aconchego de ombro amigo
Quero encontro de eu comigo...
Basta de desencontro de mim...
De desencanto do fim.
Não mais afã, medo do amanhã!
Fechei olhos e ouvidos a azedas palavras
Amargos humores, maldosos rumores...
Fechei a porta, tranquei o porto,
Abri um fosso
Entre a treva e o cristal...
Não mais casulo, covardia, taquicardia...
Não mais fragilidade, solidão. escuridão...
Que venha a sombra , que brilhe a luz
Quero à direita, sol dourado,
À esquerda, branca lua.
Quero o calor do meu amado
O sabor da pele nua.
Sob os pés quero as estrelas,
E no céu, rosas vermelhas...
Quero ser a boba da corte,
Sangrar sem ter corte,
Voar para o norte,
amar até que venha a morte...
Quero paz ,quero poesia...
Aconchego de ombro amigo
Quero encontro de eu comigo...
Basta de desencontro de mim...
De desencanto do fim.
sexta-feira, julho 21, 2006
Beleza
Beleza
O que é belo?
Bem se diz que o belo está no olho de quem vê...a beleza padrão, simétrica estética, explícita, até aquela imposta pela tirania da moda, faz bem aos olhos...mas há tanta beleza à espera de olhos, que independente da cor da íris, saibam encontrá-la!
Beleza de flashs, de momentos, de gestos que só lentes da alma podem captar...
Beleza é a harmonia de um jovem casal desprovido de beleza estética e de bens materiais...um jovem casal maltrapilho, carregando suas trouxas de miséria, alheio a quem os observa de nariz torcido, abraçados trocam beijos carinhosos enquanto esperam que o sinal vermelho detenha a enxurrada de carros que parece assustá-los...
Beleza é aquele outro casal, de mãos dadas, entrelaçadas, trêmulas, juntas há, sabe-se lá quanto tempo! Não carregam o ranço do desamor, da solidão...caminham a passinhos lentos e conversam animados por sorrisos enrugados, talvez revivendo momentos de outras belezas...
Beleza é o gesto da futura mamãe que acaricia seu barrigão reluzente, talvez sonhando com o sorriso banguela da criaturinha que logo estará em seus braços, sugando seus seios, querendo seu colo, tornando-a uma mistura de fêmea e deusa, a sentir-se poderosa por dar vida à vida
Beleza é cantiga de passarinho livre, é asa de borboleta, é pé descalço na areia molhada...
Beleza é árvore nua que enquanto espera que a chuva lhe traga nova roupa, aninha em seus galhos secos, a lua gorda e branca ou o sol magenta...
Beleza é broto verde, é folha seca, é gota de orvalho, pingo de chuva em telha de barro...
Beleza é espuma branca de onda quebrada, é riso solto, é risco de estrela cadente, é vermelho de sol nascente, é gente que sabe que gente é um produto diferente, que é algo mais que a embalagem...
Beleza é saber que GENTE vale pelo que SENTE!
O que é belo?
Bem se diz que o belo está no olho de quem vê...a beleza padrão, simétrica estética, explícita, até aquela imposta pela tirania da moda, faz bem aos olhos...mas há tanta beleza à espera de olhos, que independente da cor da íris, saibam encontrá-la!
Beleza de flashs, de momentos, de gestos que só lentes da alma podem captar...
Beleza é a harmonia de um jovem casal desprovido de beleza estética e de bens materiais...um jovem casal maltrapilho, carregando suas trouxas de miséria, alheio a quem os observa de nariz torcido, abraçados trocam beijos carinhosos enquanto esperam que o sinal vermelho detenha a enxurrada de carros que parece assustá-los...
Beleza é aquele outro casal, de mãos dadas, entrelaçadas, trêmulas, juntas há, sabe-se lá quanto tempo! Não carregam o ranço do desamor, da solidão...caminham a passinhos lentos e conversam animados por sorrisos enrugados, talvez revivendo momentos de outras belezas...
Beleza é o gesto da futura mamãe que acaricia seu barrigão reluzente, talvez sonhando com o sorriso banguela da criaturinha que logo estará em seus braços, sugando seus seios, querendo seu colo, tornando-a uma mistura de fêmea e deusa, a sentir-se poderosa por dar vida à vida
Beleza é cantiga de passarinho livre, é asa de borboleta, é pé descalço na areia molhada...
Beleza é árvore nua que enquanto espera que a chuva lhe traga nova roupa, aninha em seus galhos secos, a lua gorda e branca ou o sol magenta...
Beleza é broto verde, é folha seca, é gota de orvalho, pingo de chuva em telha de barro...
Beleza é espuma branca de onda quebrada, é riso solto, é risco de estrela cadente, é vermelho de sol nascente, é gente que sabe que gente é um produto diferente, que é algo mais que a embalagem...
Beleza é saber que GENTE vale pelo que SENTE!
quinta-feira, julho 20, 2006
Da Janela
Da Janela
(Vilma Santos)
(Vilma Santos)
Da minha janela
Eu vejo você
Num risco de estrela
No claro da lua
Na luz da fogueira
Que arde em meu peito
Eu vejo você
No sol que se esconde
Nas cores da tela
Na mira da lente
Num rosto que passa
Na outra janela
Eu sinto você
No cheiro de mato,
Na terra molhada
Que toca meus pés
Na pétala macia
Roçando meus dedos
No brilho da pedra
Que é gota de orvalho
Com raio de sol
Que rasga a manhã
Eu sinto você
No gosto do sal
No doce do mel
Na água que mata
A sede que seca
Minha boca e meu peito
Eu ouço você
Nos sons do silêncio
No uivo do vento
Eu tenho você
No ventre da noite
Parindo meus sonhos
Eu vejo você
Num risco de estrela
No claro da lua
Na luz da fogueira
Que arde em meu peito
Eu vejo você
No sol que se esconde
Nas cores da tela
Na mira da lente
Num rosto que passa
Na outra janela
Eu sinto você
No cheiro de mato,
Na terra molhada
Que toca meus pés
Na pétala macia
Roçando meus dedos
No brilho da pedra
Que é gota de orvalho
Com raio de sol
Que rasga a manhã
Eu sinto você
No gosto do sal
No doce do mel
Na água que mata
A sede que seca
Minha boca e meu peito
Eu ouço você
Nos sons do silêncio
No uivo do vento
Eu tenho você
No ventre da noite
Parindo meus sonhos
Que têm seu gosto,
seu cheiro e seu jeito.
Loucos e Santos
Alguém inventou que hoje é Dia do Amigo...mesmo achando que todo dia é dia de amigos, a onda de comemoração me envolveu e lembrei-me dessas belas palavras que recebi de um grande amigo e que são atribuídas a Oscar Wilde.
Porque de poeta e de louco, todos temos um pouco...
Loucos e Santos
(Oscar Wilde)
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer,
mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
terça-feira, julho 18, 2006
No Elevador do Filho de Deus
Bom mesmo, seria trocar a pele a cada "morrida"... se não jeito, a gente vai ficando especialista em renascimento, como diz a Elisa Lucinda!
No Elevador do Filho De Deus
Elisa Lucinda
A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo
Na minha pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção
De acordar viva todo dia
Há dores que sinceramente eu não resolvo
Sinceramente sucumbo
Há nós que não dissolvo
E me torno moribundo de doer daquele corte
Do haver sangramento e forte
Que vem no mesmo malote das coisas queridas
Vem dentro dos amores
Dentro das perdas de coisas antes possuídas
Dentro das alegrias havidas
Há porradas que não têm saída
Há um monte de “não era isso que eu queria”
Outro dia, acabei de morrer
Depois de uma crise sobre o existencialismo
3º mundo, ideologia e inflação...
E quando penso que não
Me vejo ressurgida no banheiro
Feito punheteiro de chuveiro
Sem cor, sem fala
Nem informática nem cabala
Eu era uma espécie de Lazara
Poeta ressuscitada
Passaporte sem mala
Com destino de nada!
A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Ensaiar mil vezes a séria despedida
A morte real do gastatempo do corpo
A coisa mal resolvida
Daquela morte florida
Cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos
Cheio de sorriso culpado dos inimigos invejosos
Que já to ficando especialista em renascimento
Hoje, praticamente, eu morro quando quero:
Ás vezes só porque não foi um bom desfecho
Ou porque não concordo
Ou uma bela puxada no tapete
Ou porque eu mesma me enrolo
Não dá outra: tiro o chinelo...
E dou uma morrida!
Não atendo telefone, campainha...
Fico aí camisolenta em estado de éter
Nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!
To nocauteada, tô morrida!
Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa
Não tem aquela ansiedade para entrar em cena
É uma espécie de venda
Uma espécie de encomenda que a gente faz
Pra depois ter um produto com maior resistência
Onde a gente se recolhe ( e quem não assume nega)
E fica feito a justiça: cega
Depois acorda bela
Corta os cabelos
Muda a maquiagem
Reinventa modelos
Reencontra os amigos que fazem a velha e merecida
Pergunta ao teu eu: “Onde cê tava? Tava sumida, morreu?”
E a gente com aquela cara de fantasma moderno,
De ex-persona falida:
Não, tava só deprimida.
Elisa Lucinda
A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo
Na minha pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção
De acordar viva todo dia
Há dores que sinceramente eu não resolvo
Sinceramente sucumbo
Há nós que não dissolvo
E me torno moribundo de doer daquele corte
Do haver sangramento e forte
Que vem no mesmo malote das coisas queridas
Vem dentro dos amores
Dentro das perdas de coisas antes possuídas
Dentro das alegrias havidas
Há porradas que não têm saída
Há um monte de “não era isso que eu queria”
Outro dia, acabei de morrer
Depois de uma crise sobre o existencialismo
3º mundo, ideologia e inflação...
E quando penso que não
Me vejo ressurgida no banheiro
Feito punheteiro de chuveiro
Sem cor, sem fala
Nem informática nem cabala
Eu era uma espécie de Lazara
Poeta ressuscitada
Passaporte sem mala
Com destino de nada!
A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Ensaiar mil vezes a séria despedida
A morte real do gastatempo do corpo
A coisa mal resolvida
Daquela morte florida
Cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos
Cheio de sorriso culpado dos inimigos invejosos
Que já to ficando especialista em renascimento
Hoje, praticamente, eu morro quando quero:
Ás vezes só porque não foi um bom desfecho
Ou porque não concordo
Ou uma bela puxada no tapete
Ou porque eu mesma me enrolo
Não dá outra: tiro o chinelo...
E dou uma morrida!
Não atendo telefone, campainha...
Fico aí camisolenta em estado de éter
Nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!
To nocauteada, tô morrida!
Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa
Não tem aquela ansiedade para entrar em cena
É uma espécie de venda
Uma espécie de encomenda que a gente faz
Pra depois ter um produto com maior resistência
Onde a gente se recolhe ( e quem não assume nega)
E fica feito a justiça: cega
Depois acorda bela
Corta os cabelos
Muda a maquiagem
Reinventa modelos
Reencontra os amigos que fazem a velha e merecida
Pergunta ao teu eu: “Onde cê tava? Tava sumida, morreu?”
E a gente com aquela cara de fantasma moderno,
De ex-persona falida:
Não, tava só deprimida.
Entardecer (Medo de tarde ser)
Entardecer (Medo de tarde ser)
Vilma Santos
(um dia qualquer de 1982)
(um dia qualquer de 1982)
Fim de tarde, beleza e magia...
é tudo tão grande!
E sou só um ponto
entre o fim e o começo...
é tudo tão belo!
E sou testemunha
da morte do dia
pra noite nascer...
e eu tenho medo
de não ter mais tempo
de buscar o meu riso
há tanto esquecido
num canto qualquer
de buscar o meu canto
deixado de lado
de achar o meu lado
meu lado asa
meu lado cor
meu lado flor
meu lado amor
há tanto perdido
segunda-feira, julho 17, 2006
Piedade
Piedade, Senhor!
Deste-nos a Terra, com tudo de que precisamos para viver felizes...mas ignoramos a maravilha que nos ofereceste de graça em forma de perfumes, cores e sabores...e em nome do conforto e do progresso estamos destruindo tudo...
Da nossa ingratidão, Piedade Senhor!
Fizeste-nos diferentes na pele, no entender, no querer, para que nos completássemos, nos enriquecêssemos com as diferenças...Rejeitamos o que não nos parece espelho e nos achamos superiores ao que não nos parece igual e então matamos, destruímos em Teu nome...
Da nossa falta de compreensão, Piedade, Senhor!
Deste a alguns de nós muito mais do que necessitamos, para que tivéssemos o prazer de doar, de dividir com aqueles a quem deste menos...mas, quanto mais temos, mais queremos, a dor alheia não nos curva, a fome do outro não nos tira o prazer de comer..mãos carentes, mãos pedintes, nos causam medo ou desprezo...!
Da nossa falta de caridade, de solidariedade, Piedade Senhor!
Deste-nos corpos perfeitos em suas funções, para que abrigassem o que temos de verdadeiro, de imortal...Inventamos um belo em nome do qual alteramos, mutilamos, deformamos, reformamos a casca, matamos a essência...
De tanta vaidade, Piedade, Senhor!
Da nossa insaciedade, incredulidade,
Desumanidade, deslealdade, de tanta inverdade, Piedade, Senhor!
Piedade, Senhor, da nossa impiedade!
sexta-feira, julho 14, 2006
Amor de Outono
Vilma Santos
(setembro/2005)
Havia uma fresta na alma cinzenta de asa quebrada...
Amor chegou assim de mansinho, sem muita palavra,
Sem praquês nem porquês...
Foi entrando e ficando...
Um dia de cada vez, mais um dia mais um mês...
Não importa aonde ir nem quando chegar..
O lugar é aqui, o momento é agora, a meta é o caminho bem trilhado...
Não planeja, age...
Afastando cortinas, abrindo janelas, pintando telas,
Pondo flores nos vasos vazios, poesia na folha branca,
Tão branca quanto a lua que há muito não se via
No céu de meio-dia de um dia dos namorados...
Amor pára o tempo, ignora o espelho...
Melhor ver o da alma, com os olhos de dentro...
Alma já não é cinza...floresce calma,
Apruma as asas coloridas e pulsa, e vibra e voa..
Voa e torna ao ninho porque existe Amor...
Amor que é feito de sonho plantado, de abraço apertado
De mãos dadas e pernas entrelaçadas,
De chuva no telhado,
De “Boa-noite-amor” de “Bom-dia-meu-bem”,
De pôr-de-sol por trás do jatobá, de beija-flor e sabiá
De marguerita e quatro queijos
De pele na pele, de corpo no corpo
De aconchego e muito beijo...
No jardim do amor de alma
Tem preciosa semente pra cuidar,
Espinhos pra arrancar,
Ervas daninhas e pragas pra afastar...
Amor de outono que aquece o inverno,
Floresce o verão e ilumina a primavera.
Depende de nós
Depende de Nós
Com a intenção de provar que um velho sábio não tinha a resposta certa para todas as perguntas, um jovem trouxe nas mãos, escondida entre os dedos, uma pequena borboleta. Perguntou ao sábio se a borboleta estava viva ou morta. Caso ele respondesse que estava viva, bastaria um leve aperto nos dedos para mostrar a borboleta morta; se dissesse que estava morta bastaria abrir as mãos e deixá-la voar para provar que o sábio respondera errado.
Olhando nos olhos do jovem, o sábio respondeu:
- O destino está em suas mãos: viva ou morta, só depende de você.
O jovem foi embora, envergonhado. Não abriu as mãos e não disse uma palavra. Apenas levou consigo aquela lição.
Nosso destino está em nossas mãos.
Um pouco de mim
Isto deveria ter sido a primeira postagem, mas quem disse que as coisas têm de ser sempre em ordem se a vida não é? Ás vezes acreditamos que estamos no auge de uma fase e quando percebemos estamos em pleno declínio; outras vezes pensamos que é o fim e é apenas um recomeço. Mas, quero apresentar àqueles que me são caros e a quem venha me conhecer, este cantinho, onde deixarei um pouco de mim, onde falarei de belezas e levezas de alma, de amores vividos e do Amor esperado; amores vivi como se fossem o Amor, cada um como se fosse o primeiro,o último e o único; passaram, mas cada um me fez um pouco melhor, um pouco maior, um pouco mais forte e ainda à espera do Amor, que não seja eterno enquanto dure, mas que dure por ser eterno, por ter atravessado obstáculos e fronteiras de outras vidas, de outros planos; Amor em que só caibam dois corpos e duas almas unidos pelas afinidades, pelo respeito, pela confiança e. pelo desejo de caminhar juntos na mesma direção.
A palavra escrita sempre me encantou; gosto de ler, de “colher” palavras interessantes e de escrever; é o que farei neste espaço: “palavrear” sentimentos, curiosidades, impressões, idéias, opiniões.
A todos que passarem por aqui, meu carinho, meu agradecimento!
A palavra escrita sempre me encantou; gosto de ler, de “colher” palavras interessantes e de escrever; é o que farei neste espaço: “palavrear” sentimentos, curiosidades, impressões, idéias, opiniões.
A todos que passarem por aqui, meu carinho, meu agradecimento!
quinta-feira, julho 13, 2006
Lua Adversa
Lua Adversa
Cecília Meireles
Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vâo e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso.
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Tua
Tua
Vilma Santos
(Outubro/2005)
Sou tua
De alma nua
De pele em flor...
Sou tua
Nua em pêlo
Sou tua
Em qualquer canto,
Em qualquer quarto crescente
de lua nova cheia de encanto...
Sou tua na no pulsar das veias
Na lava ardente que nos invade
No afã do querer do amor carnal...
Sou tua
Entre a dor e o prazer
Da entrega total...
Sou tua
No suave enlace
De pernas e braços
De bocas e toques,
Sussurros , gemidos
Segredos no ouvido...
Sou tua
No manso torpor
Do amor depois do amor...
Sou tua
Na sublime partilha
Do novo, do nobre
Sou tua
No contínuo combate
Aos trapos, ao pobre e ao podre...
Sou tua
Na amarga batalha
Entre o vôo e o rastejo
Entre a larva e as asas
Entre o belo e a fera...
Sou tua de alma nua...
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