quinta-feira, agosto 17, 2006

Imitações


Em tempos de essência ausente, vivam os arremedos!
A Imitação do Amanhecer
(Bruno Tolentino)

Para encontrar em cada coisa a pura essência,
Há que dispor primeiro de tudo que a sustente:
Do fruto há que excluir a morte da semente,
A parte da agonia na febre da existência.
Da arte há que reter tão-só a ambivalência;
De um corpo, a sombra apenas de tudo o que ele sente;
Mas do amor, sobretudo a ambição mais doente:
A estátua modelar a partir de uma ausência...
Ora, se a ausência é tida como constitutiva,
Que alternativa, que saída resta ao ser,
A não ser esculpir-se um falso amanhecer...?
Certo poeta, que chamou de ausência viva
Esse mármore amargo, arriscou-se a perder,
Não a trocar o amor por uma estátua altiva.

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