terça-feira, agosto 15, 2006

"Seu" João


“Seu” João

Seu João Galego, Seu João Vermelho, Seu João Pedreiro, Seu João Ferreira, Seu João de Dona Valda...Seu João, meu pai...
Homem de pouco riso e muito siso, de pouca palavra e muita atitude; Seu João era muito trabalho e pouco dinheiro; não dava presente, era presença, apesar do pouco tempo; ensinava a sonhar e a cultivar sonho; Não achava graça em flor, mas se dava o trabalho de colher uma para a menininha magrela que carinhosamente chamava de “minha moleca véia”, “canela de sibita”, “olho de pitomba lambida”...Se ia nadar, trazia entre os dentes um nenúfar, que colhia das águas ou um malmequer da margem do rio; quando Brasília ainda era um enorme canteiro de obras, ao voltar do trabalho, tinha de atravessar bom pedaço de cerrado, de onde trazia uma caliandra protegida num lenço.
Seu João era carrancudo, falava pouco e pensava muito; era um diamante não lapidado.
Tinha mãos lindas, mãos de artista, que deslizavam em traços finos de desenho, transformavam-se em bichos de sombra na parede para me divertir, penteavam suavemente meus cabelos e se feriam no duro dia-a-dia de pedreiro...Seu João não escolhia trabalho; desde que honesto, fazia o que fosse preciso para cumprir o dever de provedor.
No último domingo, Dia dos Pais, vi muitas declarações de filhos, sobre o que aprenderam com os pais...com o meu, aprendi a valorizar a família, que é o nosso abrigo quando falha tudo o mais.
Aprendi que a verdade, prevalece; nunca vi em seus claros olhos verdes qualquer sombra de mentira ou de motivo para desconfiança.
Aprendi que não devo fazer ao outro o que não quero que façam comigo.
Seu João já foi para um plano de luz , mas ainda me mostra o caminho e segura minha mão na hora da incerteza.
Obrigada, meu pai!

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