quarta-feira, janeiro 31, 2007

Um passo à frente


À beira de um precipício só há uma maneira de andar para a frente:

é dar um passo atrás.

(M. de Montaigne)

Lá e Cá...


Lá não é melhor que aqui. Quando o seu lá se tornar aqui, você simplesmente encontrará outro lá que parecerá novamente melhor que aqui.

(Autor desconhecido)



Porque depois de uma curva vem outra mais sedutora, porque toda onda quebrada vira espuma, porque depois de comprado o brinquedo perde o brilho... porque quebrado o encanto da descoberta... que resta do novo?

O Prazer...


O prazer é como certas substâncias medicinais: para obter constantemente os mesmos efeitos é preciso aumentar a dose; e a última provoca a morte ou o embrutecimento.
(Autor desconhecido)

Idade do Céu


"Não somos mais que uma gota de luz..."

Mais um rico poema musicado...



Idade do Céu

( Simone/Zélia Duncan)
Composição: Paulinho Moska




Não somos mais

Que uma gota de luz

Uma estrela que cai

Uma fagulha tão só

Na idade do céu


Não somos o que queríamos ser

Somos um breve pulsar

Em um silêncio antigo

Com a idade do céu


Calma

Tudo está em calma

Deixe que o beijo dure

Deixe que o tempo cure

Deixe que a alma

Tenha a mesma idade

Que a idade do céu


Não somos mais

Que um punhado de mar

Uma piada de Deus

Um capricho do sol

No jardim do céu


Não damos pé

Entre tanto tic tac

Entre tanto Big Bang

Somos um grão de sal

No mar do céu


Calma

Tudo está em calma

Deixe que o beijo dure

Deixe que o tempo cure

Deixe que a alma

Tenha a mesma idade

Que a idade do céu

A mesma idade

Que a idade do céu

terça-feira, janeiro 30, 2007

Barco vai, barco vem...


Quando temos os olhos presos ao ponto em que o barco diminuiu, deixamos de ver que somos mares navegáveis e que há outro barco crescendo para nós.
É o que gritou a meus ouvidos este belo texto “pensante” que recebi como presente e do qual, infelizmente, desconheço o autor.


Abrindo espaços


Sempre me encantava, quando criança, ao ver embarcações desaparecerem na linha do horizonte, até onde meus olhos podiam enxergar. Acreditava que elas sumiam para sempre, via como criança, com beleza e imaginação e pensava que ali era o fim. E ficava lá, à deriva do mundo, olhando o diminuir dos barcos. O tempo passou, eu cresci e entendi que o diminuir não era de verdade, que no ponto onde eles sumiam não sumiam de fato e tudo que eu via era pelo olhar bonito e puro de quem ainda não aprendera sobre certos limites.

O tempo passou, eu cresci e descobri que eles, os barcos, diminuem para nossos olhos à medida em que crescem para outros olhos, que somem para nós, para surgir para alguém que, em algum lugar, divide conosco o ato mágico de velar o mar. Tudo isso veio à memória porque estava lendo Clarice Pinkola e ela fala do ciclo da vida-morte-vida, que morremos e nascemos muitas vezes, às vezes num mesmo dia, numa mesma semana, num mesmo mês, na mesma vida.

Fala que morte não é prenúncio do fim, mas de um início, e mais, diz que é nossa a tarefa de matar, matar algo para permitir que uma nova vida venha. Matar dentro de nós. Questão de espaço. Faz sentido. É que não comportamos tudo. Não há espaço para tanto sentir. E quando insistimos em manter vivos certos sentimento através de respiração artificial, não há espaço para nascer nada de novo.

Então temos que abrir o baú e matar dentro de nós mágoas, dores velhas ou novas, emoções empoeiradas, vícios humanos, escolhas erradas, ferimentos mantidos sangrando, decepções, conceitos obliterados, amores infelizes, imagens amareladas, relacionamentos passados, tristezas, amarguras, pessoas. E por aí vai. A lista é individual, cada um tem a sua. O que é comum a todos é a responsabilidade de, interiormente, exterminar, dar fim ao que é ruim para que algo novo e bom nasça. É fácil? Não mesmo.

A aparência de qualquer morte é sempre feia e matar internamente não é simples impulso, é decisão pensada, medida e avaliada. É fato que temos sempre a opção de continuar achando que os barcos do sentir seguem seu curso e, chegada a hora, ultrapassando a linha do horizonte do coração, morrerão por si sós. Mas na verdade isso significa manter no nosso âmago tudo, até o lixo que amealhamos, em arquivos abarrotados que crescem e crescem embotando a vida, e nos enganamos dizendo: são arquivos mortos.

É isso ou então encaramos a megera e aprendemos a matar. O que deverá morrer em mim hoje? Essa é a pergunta que ela sugere para começar. E eu, com a experiência de observadora criança, humildemente acrescento: não basta escolher dentro de nós o que vai morrer e em seguida matar. É preciso enterrar.
Porque às vezes o que nos fez mal já está pra lá de morto, mas mantemos mumificado dentro de nós para usarmos como referencial, para não esquecermos do que sofremos e não cairmos de novo nas mesmas armadilhas. Outro engano. Nada é igual nunca e dores embalsamadas não servem como exemplo, nem protegem, só paralisam. Não há fórmula. Não há bulas. A única maneira de viver é permitir que a vida nasça e morra e de novo nasça, tantas vazes quantas forem necessárias.

Portanto, para abrir espaços é necessário nos fazermos perguntas. E uma vez identificado o que não é bom e não nos serve mais, devemos dar-lhe a morte. Em seguida enterremos nosso morto, choremos um pouco e, cumprido o ritual, vistamo-nos com esmero para esperar. Algo bom estará nascendo. E agora? Bom, agora o mundo real chama, a vida grita, o tempo urge e eu, buscando palavras para encerrar a crônica, relembro que o fim é uma questão relativa, mas necessária. E olhando da janela para o horizonte que parece ser o fim, mas é também o princípio, finalizo para poder (RE)COMEÇAR!!!

segunda-feira, janeiro 29, 2007

As Asas


Certo é que há um "internetês" que de tão pobre causa náuseas...mas de repente, encontramos jóias como esta que descobri por acaso no site http://aaldeia.net/.

"...existe uma paz que não é a paz das coisas,..."

As asas

(Paulo Geraldo)


A vida é breve, a alma é vasta:

ter é tardar

(Fernando Pessoa, Mensagem).



Um homem demora muito tempo a fazer-se. Não somos como

aqueles passaritos que se soltam na imensidão dos céus

pouco tempo depois de terem visto a luz. Trazemos em nós

uma semente que demora a germinar, que gasta nessa

tarefa muitos anos de agitação e silêncio. É assim,

decerto, porque está destinada a dar um fruto muito

maior que o do pássaro.

Temos, sem dúvida, uma alma: raciocinamos, temos sede de

conhecer, somos capazes de amar e de escolher. Um animal

come necessariamente, se tiver fome e o alimento estiver

ao seu alcance. Um homem, nas mesmas circunstâncias,

pode não o fazer. Porque, por exemplo, resolveu fazer

dieta. Ou porque escolheu dar o seu alimento a outro que

tinha mais fome do que ele. Tem a possibilidade de viver

de acordo com outros critérios.

Há muitos séculos que chamamos alma a esse não-sei-quê

que faz parte de nós e nos permite viver num plano

superior ao das coisas simplesmente materiais. É como se

possuíssemos uma espécie de asas.

Sabemos apreciar um sofá confortável, um sono reparador,

um bom bife com batatas fritas. Mas precisamos de mais

do que isso. E damos por nós a perguntar "porquê?", ou a

discutir ideias. E descobrimos que há qualquer coisa -

não feita de células ou moléculas - que nos comove e nos

atrai numa paisagem, num gesto de heroísmo, num poema,

na música.

Há uma beleza e um bem que não são feitos de nada que se

possa tocar. Que não estão nas coisas, embora as coisas

nos levem a eles. Aquilo que é apenas material -

acabamos sempre por o descobrir - sabe a pouco e não nos

enche as medidas. Mas leva tempo a chegar aí.

Leva tempo até percebermos, por exemplo, que existe uma

paz que não é a paz das coisas, mas sim uma harmonia

interior que resulta de um comportamento correcto. E que

é esse o género de paz que nos interessa; que não nos

basta aquela paz que é feita somente de ausência de

vento ou de guerra.

Um homem tem de crescer não apenas corporalmente.

Deve atingir uma envergadura que ultrapassa em muito o âmbito

das coisas materiais. Deve fazer-se... homem.

É um caminho já de si longo. Ainda por cima, cometemos

com frequência a burrice de termos medo de ganhar asas.

De largar um pouco esses outros bens - mais pequenos,

mais baixos, mais... animais. É olhar e ver como muitas

vezes nos afadigamos correndo atrás da posse de bens

materiais e dos prazeres que não são senão para o corpo

e de que também gostamos. Ter, gozar, curtir, comprar,

comprar... Ter, ter, ter.

Mas sucede que o ter e o comprar e o curtir - usados de

um modo exagerado, como fazemos - nos atrasam.

Perdemos tempo.

Quem vive obcecado com a posse de prazeres e bens

materiais não tem acesso aos prazeres da alma. Passa ao

lado do bem e da beleza e do amor. Porque escolheu um

nível para a sua vida - o mais cómodo - e escolher uma

coisa é sacrificar as outras. Não é possível alcançar o

topo da montanha e, simultaneamente, permanecer deitado

à sombra lá em baixo.

Portanto, apressemo-nos. Pois, como escreveu o poeta,

ter é tardar...

quinta-feira, janeiro 25, 2007

A Alma dos Diferentes


Outro belo texto que recebi por e-mail e quero compartilhar com todos os diferentes, não diferentes ou indeferentes que me visitarem. Desconheço o autor.


Ah, o diferente, esse ser especial!

Diferente não é quem pretenda ser.
Esse é um imitador do que ainda não foi imitado, nunca um ser diferente.
Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errados para os outros.
Que riem de inveja de não serem assim.
E de medo de não agüentar, caso um dia venham, a ser.

O diferente é um ser sempre mais próximo da perfeição.
O diferente nunca é um chato.
Mas é sempre confundido por pessoas menos sensíveis e avisadas.
Supondo encontrar um chato onde está um diferente, talentos são rechaçados; vitórias adiadas; esperanças mortas...

Um diferente medroso, este sim, acaba transformando-se num chato.
Chato é um diferente que não vingou.
Os diferentes muito inteligentes percebem porque os outros não os entendem.
Os diferentes raivosos acabam tendo razão sozinhos, contra o mundo inteiro.
Diferente que se preza entende o porque de quem o agride.
Se o diferente se mediocrizar, mergulhará no complexo de inferioridade.
O diferente paga sempre o preço de estar - mesmo sem querer - alterando algo, ameaçando rebanhos, carneiros e pastores.
O diferente suporta e digere a ira do irremediavelmente igual: a inveja do comum; o ódio do mediano.
O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão, mas que está sempre certo.
O diferente começa a sofrer cedo, já no primário, onde os demais de mãos dadas, e até mesmo alguns adultos por omissão, se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial em aleijão e caricatura.

O que é percepção aguçada em: "Puxa, fulano, como você é complicado".
O que é o embrião de um estilo próprio em: "- Você não está vendo como todo mundo faz?"
O diferente carrega desde cedo apelidos e marcações os quais acaba incorporando.
Só os diferentes mais fortes do que o mundo se transformaram (e se transformam) nos seus grandes modificadores.
Diferente é o que vê mais longe do que o consenso.
O que sente antes mesmo dos demais começarem a perceber.

Diferente é o que se emociona enquanto todos em torno agridem e gargalham.
É o que engorda mais um pouco; chora onde outros xingam; estuda onde outros burram.
Quer onde outros cansam.
Espera de onde já não vem.
Sonha entre realistas.
Concretiza entre sonhadores.
Fala de leite em reunião de bêbados.
Cria onde o hábito rotiniza.
Sofre onde os outros ganham.

Diferente é o que fica doendo onde a alegria impera.
Aceita empregos que ninguém supõe.
Perde horas em coisas que só ele sabe importantes.
Engorda onde não deve.
Diz sempre na hora de calar.
Cala nas horas erradas.
Não desiste de lutar pela harmonia.
Fala de amor no meio da guerra.
Fala de amor no meio da guerra.
Deixa o adversário fazer o gol, porque gosta mais de jogar do que de ganhar.
Ele aprendeu a superar riso, deboche, escárnio, e consciência dolorosa de que a média é má porque é igual.

Os diferentes aí estão: enfermos, paralíticos, machucados, engordados, magros demais, inteligentes em excesso, bons demais para aquele cargo, excepcionais, narigudos, barrigudos, joelhudos, de pé grande, de roupas erradas, cheios de espinhas, de mumunha, de malícia ou de baba.
Aí estão, doendo e doendo, mas procurando ser, conseguindo ser, sendo muito mais.
A alma dos diferentes é feita de uma luz além.
Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os pouco capazes de os sentir entender.
Nessas moradas estão tesouros da ternura humana.
De que só os diferentes são capazes.

Não mexa com o amor de um diferente.
A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Levezas de Cecília


Aqui está minha vida.

Esta areia tão clara com desenhos de andar

dedicados ao vento.

Aqui está minha voz,

esta concha vazia, sombra de som

curtindo seu próprio lamento

Aqui está minha dor,

este coral quebrado,

sobrevivendo ao seu patético momento.

Aqui está minha herança,

este mar solitário que de um lado era amor e,

de outro, esquecimento.

(Cecília Meireles)

Mulher Velha


Há algum tempo ouvi um famoso dizer: “ No dia em que me olhei no espelho e disse a mim mesmo que era um homem velho, fiquei em paz !”


Eu sou uma mulher velha! E não foi o espelho que me disse, sempre soube. Revirando o baú dos guardados encontrei um caderno amarelado por 35 anos de existência com estas palavras:
“Achamos por bem destacar na disciplina Técnicas de Serviços, alguns assuntos orientados por nossa professora, trabalhos feitos com a máxima boa vontade e que julgamos, muito nos servirão no futuro bem próximo. Eis uma síntese do que aprendi”.... Isso não é linguagem de uma menina de 13 anos...logo fui uma adolescente velha. Daí voltei um pouco mais no tempo e vi uma molequinha de 3 anos choramingando pelos cantos da casa, morta de sono e cansaço de uma viagem nada confortável, se lamentando: “ a gente só é desenhada nesse mundo pra sofrer” Isso não é linguagem de criança dessa idade, então fui uma criança velha; mas deixa explicar o “gente desenhada”...desde sempre gosto de desenhar; pedia a minha mãe um lápis pra “fazer gente” e ela dizia: “não é fazer gente, é desenhar gente...daí entendi que gente era coisa desenhada. Hoje tenho certeza disso...tem gente desenhada a lápis, a pena de nanquim, a aquarela e a ferro e fogo. Mudei de assunto...tudo bem, isso também é coisa de gente velha que atinge um certo "descaramento" de falta de compromisso com o padrão, com os ponto e vírgulas com os pontos finais e que fica mais à vontade com aspas e reticências. Voltando ao que estava dizendo...Que é mesmo ser velho? Como diz o Ziraldo tem suas vantagens; pra catarata tem cirurgia, pra dor na coluna tem caminhada e o bom mesmo é poder entrar em qualquer lugar sem pegar fila...Em pouco menos de vinte anos terei essa “regalia”; as rugas ainda são poucas, os cabelos brancos ainda dá pra arrancar, se quiser; a lei da gravidade ainda não fez muito estrago, pois como diz Rita Lee, o bom de não ter bundona nem peitão é que também não tem nada pra cair. Mas por saber que há um bicho que não morre, uma chama que não dorme; por ter vivido o bastante para saber que rótulos de propriedade não ficam bem em gente, que para se ter a companhia de bichos de asas não se usa gaiola, enfeita-se o jardim; que sentimentos profundos não precisam de “outdoors” nem de megafones; que mentiras repetidas não se tornam verdades; que para que haja frutos maduros no outono é necessário o frescor do inverno, o calor do verão e o explodir da primavera; por saber que o amor não submete, não é submisso nem aceita condições ; por acreditar que ETERNO é apenas o ciclo de nascer, aprender (ou perder a oportunidade), voltar ao lar e renascer e que o resto é passageiro; por preferir a mansidão dos lagos ao turbilhão das quedas dágua, um longo trote a um cansativo galope, a calma do ocaso à incerteza do acaso é que eu digo serenamente: Espelho, espelho meu, não estou velha , SOU UMA MULHER VELHA!

terça-feira, janeiro 23, 2007

A Máquina Moderna


Recebi de um amigo esta interessante crônica atribuída a Mário Prata. Fez-me pensar: quantas vezes nós também somos jogados no porão por julgarem " antiquadas" nossas qualidades ou atitudes...Mas o tempo que condena é o mesmo resgata.



A Máquina Moderna


(Mário Prata)

Ouve só. A gente esvaziando a casa da tia neste carnaval. Móvel, roupa de cama, louça, quadro, livro. Aquela confusão, quando ouço dois dos meus filhos me chamarem.

- Mãe!

- Faaala.

- A gente achou uma coisa incrível. Se ninguém quiser, pode ficar para a gente? Hein?

- Depende. Que é? (Os dois falavam juntos, animadíssimos)

- Ééé... uma máquina, mãe.
- É só uma máquina meio velha.

- É, mas funciona, está ótima!

Minha filha interrompeu o irmão mais novo, dando uma explicação melhor.

- Deixa que eu falo: é assim, é uma máquina, tipo um... teclado de computador, sabe só o teclado? Só o lugar que escreve?
-Sei.
- Então. Essa máquina tem assim, tipo...uma impressora, ligada nesse teclado, mas assim, ligada direto. Sem fio. Bem, a gente vai, digita, digita..Ele ia se animando, os olhos brilhando.

- ... e a máquina imprime direto na folha de papel que a gente coloca ali mesmo!

É muuuito legal! Direto, na mesma hora, eu juro!

Eu não sabia o que falar. Eu juro que não sabia o que falar diante de uma explicação dessas, de menina de 12 anos, sobre uma máquina de escrever. Era isso mesmo?

- ... entendeu mãe?... zupt, a gente escreve e imprime, a gente até vê a impressão tipo na hora, e não precisa essa coisa chata de entrar no computador, ligar, esperar hóóóras, entrar no word, de escrever olhando na tela, mandar para a impressora, esse monte de máquina, de ter que ter até estabilizador, comprar cartucho caro, de nada, mãe! É muuuito legal, e nem precisa de colocar na tomada! Funciona sem energia e escreve direto na folha da impressora!

- Nossa, filha...

- ... só tem duas coisas: não dá para trocar a fonte nem aumentar a letra, mas não tem problema. Vem, que a gente vai te mostrar. Vem...

Eu parei e olhei, pasma, a máquina velha. Eles davam pulinhos de alegria.

- Mãe. Será que alguém da família vai querer? Hein? Ah, a gente vai ficar torcendo, torcendo para ninguém querer para a gente poder levar lá para casa, isso é o máximo! O máximo!

Bem, enquanto estou aqui, neste 'teclado', estou ouvindo o plec-plec da tal máquina, que, claro, ninguém da família quis, mas que aqui em casa já deu até briga, de tanto que já foi usada.

Está no meio da sala de estar, em lugar nobre, rodeada de folhas e folhas de textos 'impressos na hora' por eles. Incrível, eles dizem, plec-plec-plec, muito legal, plec-plec-plec.
Eu e o Zé estamos até pensando em comprar outras, uma para cada filho. Mas, pensa bem se não é incrível mesmo para os dias de hoje: sai direto, do teclado para o papel, e sem tomada!

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Seu Nome

Contrastando com o lixo musical que explode feito praga por aí, surge como carícia aos ouvidos e à alma, ritmo com jeitinho de oriente, na doce voz de Luiza Possi o "poema" de Vander Lee:

Seu Nome

Quando essa boca disser o seu nome venha voando
Mesmo que a boca só diga o seu nome de vez em quando
Quando essa boca disser o seu nome venha voando
Mesmo que a boca só diga o seu nome de vez em quando

Posso enxergar no seu rosto um dia tão claro e
Luminoso
Quero provar desse gosto ainda tão raro e misterioso
Do amor

Quero que você me dê o que tiver de bom pra dar
Ficar junto de você é como ouvir o som do mar
Se você não vem me amar é maré cheia, amor
Ter você é ver o sol deitado na areia

Quando quiser entrar e encontrar o trinco trancado
Saiba que meu coração é um barraco de zinco todo
cuidado
Quando quiser entrar e encontrar o trinco trancado
Saiba que meu coração é um barraco de zinco todo
cuidado
Não traga a tempestade depois que o sol se pôr
Nem venha com piedade porque piedade não é amor

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Projeto Pra Daqui a Pouco


De pedra e madeira...muita janela e cortina de renda branca como as casinhas do Paraná...varanda dos quatro lados, com rede pra hora da preguiça; um cantinho pra escrever quadros e pintar poesia...espaço pra muito livro e coisinhas de valor como a mesinha projetada por um dos integrantes da minha “meia dúzia de loucos e santos”: um tronco, uma prancha de madeira uma camada de sementes coloridas, um tampo de vidro, ou quem sabe uma placa de cristal bem tortinha daquelas cortadas da pedra bruta dali de Cristalina.
Um jardim...não! O Jardim...com flor de toda cor pra chamar borboleta e beija-flor, periquito e bem-te-vi , sabiá e quem vier; no cantinho do jardim uma cascata pra ninar; no meio um lampião pras noites sem luar.
Um canteiro de cheiros...alecrim, hortelã, manjericão, capim santo, salsinha, coentro cebolinha.
Pé de manga, de jaca, de maracujá doce, de laranja, de banana, de acerola, de romã pros netos saberem que fruta não “nasce”em bandejinha de supermercado; ainda pros netos, meus ou de quem aparecer, boneca de pano, balanço de pneu no galho da mangueira, cantiga de roda, livrinhos de “Era uma vez.
Cozinha, claro pra soltar a imaginação e agradar ao paladar das visitas.
Quintal pra criar gato, coelho, cachorro, pato, galinha.
E música, muita música! de flauta, gaita, viola ou violão, cantiga de passarinho, vento no taquaral, risada de menino.
Foi sonho, agora é Meu Projeto pra daqui a pouco. Cinco anos voam, como voaram vinte, quarenta, quase cinqüenta.
Pensando em que me ocupar quando deixar a gaiola de concreto, o mundo das capas pretas e das “providências cabíveis”, tive vontade de ter um canto diferente, uma mistura de culinária com pintura, poesia, literatura e fotografia, algo assim como um “Café com Poesia” ou poesia com doce, arte com afeto, letra com açúcar ou coisa parecida... um lugar com a minha cara pra receber a minha preciosa meia dúzia de amigos que acabei de citar... não são sempre os mesmos, pois como naquela velha comparação da vida com uma viagem de trem, em “cada estação tem gente que vai, e gente que vem...uns fazem conosco uma viagem inteira, alguns um pequeno trecho, outros apenas uma estação”... o que vale é que trazem marcas que reconhecemos e deixam outras que não esquecemos; todos eles têm cheiro de flor, brilho de estrela, ouvem os sons do silêncio, conhecem o sabor do azul; é gente que sabe que o tamanho de um livro não se mede em centímetros e que gente não se avalia pela capa e nem vale quanto pesa; é gente que sabe que a primavera precisa do outono.
A essa gente, aviso que está lançada, em terra fértil, a semente do meu sonho projeto. Preparem então as mudas de flores que vão me dar de presente...de preferência descubram quais são as preferidas das borboletas azuis!

terça-feira, janeiro 16, 2007

Sem porquês...



“A rosa não tem porquês. Ela floresce porque floresce”
(Ângelus Silesius)


Assim também a poesia...Não precisa de regra, padrão, rima, metria ou sabedoria ... Em forma de riso, de choro, de gozo, de espera, de asa, de ausência, de pétala, de presença, brota onde, quando, como e em quem escolhe. Da treva, do cristal, do fel, do mel, da chama, das cinzas, nasce e renasce séculos sem fim, amém!

Duas ou Três Rosas...


"Os poderosos podem matar uma, duas ou até três rosas,
mas jamais poderão deter a primavera." (Che Guevara)

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Dois zóim a passear...

Cedo, cedo...o sol, preguiçoso, esfrega o olho...não sabe se levanta ou fica mais um pouco. Janelas dormem. Papagaio quer café. Ruas desertas, pistas vazias...podia dançar no meio do asfalto se dançar quisesse. Dálmata fugido...digo que é lindo, me ignora...espera que abram o portão. Árvore degolada renasce... fotografo! Cheiro de banho, de café, de pão quente. A beata e seu rosário madrugam pra falar com Deus. Primeiros carros, primeiros passos...passos lentos, apressados, em marcha, correndo... passo por muitos, muitos passam por mim. Jardim abandonado...periquito e bem-te-vi. Os dois velhinhos de todo dia...Bom dia!!! Quanta simpatia! A cadelinha poodle de lacinho cor-de-rosa...tão educadinha! Sem coleira, passo a passo com a dona. Cachorrão preto, ofegante, de focinheira quase arrasta o homem que o leva (ou é levado por ele?). Pra variar lembro Rubem Alves: “Muitas pessoas levam seus cães a passear. Eu levo meus olhos a passear. E como eles gostam! Eles têm fome de ver. Encantam-se com tudo. Para eles o mundo é assombroso. Tenho dó daqueles que caminham para fazer exercício, cabeça baixa, olhando para o chão, com cara de sofrimento, sem ver as árvores e os pássaros”. Eu bem que gostaria de levar meu cão a passear, mas por enquanto, só por enquanto não posso ter cão...Então assim como o poeta, levo meus olhos, ouvidos, narinas e alma a caminhar.Plantinha branca, que linda...outra foto! E aquela frutinha...já não dá pra dançar na pista... atravesso correndo. A frutinha vira foto. Cervejaria não dorme. Chamam o próximo caminhão para descarga. Caminhoneiro gaúcho, cuia de chimarrão. Mais um eucalipto cortado...se continua assim, que será dos pulmões daqui a pouco? Outros eucaliptos cheiram mais forte que nunca! choram a morte do irmão. Ali plantaram uma semente de “Campus”. Vamos ver se o governador com nome de planta tem palavra de raiz!quanto tempo vai levar pra nascer o pé de Universidade plantado nesta placa? Cobrinha morta, tadinha! Tão linda! banquete de formiga...é a vida...fim de um, alegria do outro.Relógio avisa: noventa minutos, mais noventa de volta! Gaiola de concreto te espera! Dói o pé... depois de “torcido”sempre dói, mas não é uma dorzinha besta que vai me segurar. A alma quer mais, e vai à frente me puxando, serelepe feito pipa a debicar. Quem vence é o relógio. “Vambora zóinho” (???) ! Amanhã tem mais.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Tudo direitinho


Depois de ler isto, senti-me mais leve...é que sempre achei um crime deixar um livro pela metade...agora vejo que estive “Pennacmente” correta, quando abandonei bem no comecinho, “Saltei Abismos”, de Dulce Tupacyguara, quase pela metade “O Processo” de Franz Kafka, quase no fim, As Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino; quando NÃO li “O Príncipe” de Maquiavel, quando me encantei com o “Pequeno Príncipe”, quando achei muito foguete pra pouca festa “O Código Da Vinci” , quando reli e treli “Fernão Capelo Gaivota” quando tomei de um gole só “Pássaros Feridos”, quando tomo de novo aos golinhos todo dia, “Um céu numa flor silvestre”. É tudo direito, olhaí:

Direitos Imprescritíveis do Leitor
(Daniel Pennac)

1.O direito de não ler.
2.O direito de pular páginas.
3.O direito de não terminar um livro.
4.O direito de reler.
5.O direito de ler qualquer coisa.
6.O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível).
7.O direito de ler em qualquer lugar.
8.O direito de ler uma frase aqui e outra ali.
9.O direito de ler em voz alta.
10.O direito de calar.

domingo, janeiro 07, 2007

Asas e almas


Reflexão
(Gilka Machado)

Há certas almas
Como as borboletas,
Cuja fragilidade de asas
Não resiste ao mais leve contato,
Que deixam ficar pedaços
Pelos dedos que as tocam.

Em seu vôo de ideal,
Deslumbram olhos,
Atraem as vistas;
Perseguem-nas,
alcançam-nas,
detêm-nas,
mas, quase sempre,
por saciedade
ou piedade,
libertam-nas outra vez.

Elas, porém, não voam como dantes,
Ficam vazias de si mesmas,
Cheias de desalento...

Almas e borboletas,
Não fosse a tentação das cousas rasas;
- o amor de néctar,
- o néctar do amor,
E pararíamos nos cimos
Seduzindo do alto,
Admirando de longe!...

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Entre o luar e a folhagem


Entre o luar e a folhagem
(Fernando pessoa)

Entre o luar e a folhagem,
Entre o sossego e o arvoredo,
Entre o ser noite e haver aragem
Passa um segredo.
Segue-o minha alma na passagem.
Tênue lembrança ou saudade,
Princípio ou fim do que não foi,
Não tem lugar, não tem verdade.
Atrai e dói.

Mata e cura


O que mata, também pode curar; o que eleva também pode derrubar.

Muito interessante este texto de Dad Squarisi publicado no Correio Braziliense em 31/12/2006:

Receita do melhor e do Pior

Dad Squarisi

"Ele gostava de escrever histórias. Preferia as fábulas. É dele a popular "A raposa e as uvas". Grego, foi escravizado em Roma. Na terra dos Césares, comandava a cozinha de um senhor rico, dono de enorme prestígio. Um dia, o poderoso lhe ordenou:
- Vou receber a elite política, econômica e intelectual do país. Faça um jantar com o que há de melhor. Escolha especiarias, carnes, frutas e verduras sem preocupação com gastos. O importante é a excelência.
Os convidados chegaram. Depois dos aperitivos, sentaram-se á mesa. O cardápio surpreendeu. Entrada principal: língua. Prato principal: língua. Sobremesa: língua.
Indignado, o mandachuva cobrou explicação do subalterno. Esopo explicou:
_ O Senhor pediu o melhor. O que pode superar a língua? Com ela fazemos discursos, aprendemos filosofia, conquistamos parceiros, ganhamos promoções, cantamos louvores, conversamos com Deus.
- Pois agora providencie outro banquete, mas com o que há de pior.
Esopo repetiu o cardápio e a explicação:
- Com a língua , é possível caluniar, insultar, mentir, prejudicar a si e ao outro.
A língua constrói e destrói mundos."

terça-feira, janeiro 02, 2007

Tudo Novo!!!


Anda, abre os olhos!
Viraram o calendário! Agora é tudo novo de novo! Se vires caras de fome, lágrimas de abandono, de desespero, de desamor, esfrega bem os olhos e vira a cara, pois será alucinação, memória de coisas passadas, porque agora é tudo belo, tudo claro!
O mundo vestiu branco, o novo tempo foi brindado espumante, explosiva e coloridamente! Agora reina a PAZ entre os povos!
Então, tá esperando o quê? Anda! pega tua alma magoada, tua aura amargurada, enrola tudo no pijama esconde debaixo da cama pra mais tarde, quando fores tu mesmo só com teu travesseiro! Mas, agora calça as botas da esperança, veste a fantasia, pinta o nariz de vermelho, põe a máscara da alegria que é feio ser triste, é pecado ser triste, é crime ser triste! Então pega emprestado um sorriso, aquela outra máscara de beiço cortado e dentes de fora, promete emagrecer ou engordar, arranjar um novo emprego ou um novo amor, promete muito, mas não vale cumprir! Abraça todo mundo, confraterniza-te criatura! Grita ao mundo que és feliz!